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24 de novembro de 2008

DOIS IRMÃOS




Eduardo Naranjo




Ainda o Claras Manhãs não estava aberto, quando abriu um blog só dedicado ao ELEVADOR e que vale a pena espreitar, UM CONTO PARA UM ELEVADOR
Mandei três textos que coloquei, era obrigatório ter um blog, no Claras o Contestatário. Como sei que muitos por lá não passam, e preciso de uma folga (sorriso), hoje coloco aqui um deles.




Para eles, o elevador antigo, era sempre uma aventura.
Por ele fugiam, porta de lagarta aberta e antes de chegarem ao seu interior tinham de abrir, ainda, as duas portas de vidro, elegantemente trabalhadas em gravação a fosco, fugiam de quem não lhes queria bem.
Por ele entravam no, que eles chamavam, calabouço, embora nunca tivessem estado presos, presos ficavam os seus sonhos, desfeitos mal entrassem em casa.
Saiam no elevador contentes assobiando, sabendo já que haveria represálias, mas mesmo assim a aventura chamava por eles, porta fora chegavam ao exterior.
Entravam nele, cabeças baixas, pensando já no que lhes iria acontecer, pensativos perguntando-se um ao outro se valeria a pena subir.
Tão novos, tantos sonhos já desfeitos e desciam, subiam, subiam e desciam, assim passavam a vida.
Lembrava-se disto tudo, enquanto o elevador ia subindo, aos anos que não fazia esta viagem de elevador, o irmão já morto... espreitando o primeiro andar que continuava igual, entrando por ele adentro a sensação que nunca tinham percebido o movimento do elevador, os seus arranques as suas hesitações, que se podiam comparar à sua vida.
Segundo andar, já bem modificado, visto ser de escritórios, porta da rua escancarada para todos poderem entrar.
Quando desciam no elevador, era como descessem ao melhor que deles tinham, a alegria, os sonhos, a magia da vida, que bastava uma gargalhada para toda ser diferente. Quando subiam nele, entravam no pior que neles havia, a violência que os marcara para o resto da vida, o desamor que se refletiria, também, na vida do dia-a-dia, as raivas e os medos
Já ia no terceiro andar, tremeu só de pensar que estava a chegar ao pior que tinha havido nele, ao pior que havia na sua vida, o irmão já morto....
Resolveu, no pouco tempo de permeio entre o terceiro e o quarto andar, que desta não seria apanhado desprevenido, não se deixaria ir abaixo, far-lhe-ia frente, se queria mudar.
Quarto andar, o fatídico, ainda hesitou dentro, mas de rompante abriu de par em par as duas portas de vidro, elegantemente trabalhadas em gravação a fosco, abriu ainda com mais energia a porta de lagarta e quando já tinha saído e se preparava para as portas fechar, ouviu um risinho de desprezo que dizia:
- então ainda estás vivo? Não te suicidaste como o teu irmão? Sempre disse que eras um cobarde! Como te atreves ainda a subir nesse elevador
e num repente, esqueceu-se de todas as boas intenções, pôs um pé na rede que separava o corrimão da escada, do fosso e de um salto deixou-se cair, como tinha feito o irmão ainda adolescente.


10 comentários:

Anónimo disse...

...e que bela folga nos deste! :)

Beijinho

-JÚLIA MOURA LOPES- disse...

eu lembro deste conto, Minucha ! :-)

beijo!

claras manhãs disse...

sorriso

Obrigado Luís

beijinho

claras manhãs disse...

Olá Júlia


Eu lembro-me de lá ter ido Júlia

beijinho

-JÚLIA MOURA LOPES- disse...

foi logo no inicio de nos conhecermos..

esqueci dizer que a imagem, mais uma vez é espectacular!

claras manhãs disse...

Obrigado Júlia
é um pintor de que gosto muito o Eduardo Naranjo

beijinho

Fatyly disse...

Foi bom reler este texto!

Beijocas

claras manhãs disse...

Já tinhas lido Fatyly?

Vês as surpresas que que eu tenho?

beijinho

Paula Crespo disse...

Este final deixa-me sem palavras...

claras manhãs disse...

Olá Paula

sorriso
Há vidas duras, minha querida.


beijinho