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26 de maio de 2009

SER OU TER




Paulo Medeiros





Os pobres desejam ter, quanto mais não seja dinheiro para comer. Não lhes pode interessar o ser, porque só serão se tiverem de comer, para não falar dos que nada de nada têm.
Os ricos e muito ricos desejam ter bens que podem comprar com o dinheiro que têm. A maior parte deles pensa que é, porque tem.
Isto vem a propósito da educação e dos valores morais do post anterior, vem a propósito também do consumo e do ser e do ter-se.
«Só se é quando se tem bens; quanto mais se tiver mais se é» esta foi a herança deixada pelas gerações mais velhas do antes de Abril de 74 aos operários e aos trabalhadores rurais, talvez os dois tipos de trabalhadores que mais se desenvolveram financeiramente no pós 25 Abril, com os seus salários a aumentarem estrondosamente.
São estes pais, a quem faltou na juventude quase tudo, que fazem os maiores sacrifícios para que nada falte aos seus filhos, e quando digo nada, refiro-me por exemplo a um blusão de cabedal de uma marca conhecida dado a um filho de 12 anos que custou mais do que todo o salário da mãe, só para o menino não se sentir mal ao lado dos seus colegas.
Asneira? Que sei eu disso se nunca me senti posta de lado por colegas e muito menos por não ter de vestir. Como se diz a uma mãe que quase não andou na escola e quando o fez foi descalça que é asneira gastar mais do que o seu salário, salário esse que fazia falta em casa, para comprar um blusão de cabedal que no ano seguinte já não servirá ao filho?
São estes filhos que tudo tiveram, que viram os seus pais fazerem os maiores sacrifícios para que nem sequer as parvoíces lhes faltassem, agora já com um canudo na mão que acham, por terem sido assim educados, que tudo lhes é devido.
Eles têm de ter para ser, foi isso que sempre desde gerações lhe foi incutido. O senhor Doutor era o Senhor Doutor, não por saber, sabiam lá eles disso, mas porque tinha uma casa, ou uma quinta e tinha trabalhadores ou criados e criadas a trabalhar para si.
Eles tinham, por isso serem doutores.
Eis agora a segunda geração que já é doutora e sente que não é, porque não tem e pensa, com toda a sociedade a dizer-lhe que pensa bem, com toda a sociedade a dar relevo ao que o Figo ou o Ronaldo ganham, que se comprar, se mostrar que tem, mesmo que comprado fiado, passa a ser. Endivida-se então para comprar o carro, a casa, o frigorífico mais as máquinas de lavar e ainda o pc tanto o fixo como o portátil, mais o serviço da Vista Alegre que o banco vendia e também o de copos de cristal.
Como se explica a estas pessoas que se pode ser sem se ter, que o importante é ser, quer se tenha ou não?
Ainda no outro dia ouvi dizer que para arranjar emprego é necessário 50% de conhecimentos, 30% de sorte e 20% de sabedoria.
Fiquei arrepiada, porque conheço bem a pessoa em questão e sei que não foi educada assim. O que se terá passado então de lá para cá?
Os ‘conhecimentos’ são uma forma de ter e toda a sociedade capitalista, pelo menos até esta crise, depois logo se verá, quer ter, quer só ter, dinheiro, bens, conhecimentos e faz tudo, esfola o gato e rouba a mãe, para ter.



22 de maio de 2009

OUTROS TEMPOS








Obrigado INÊS, pelo mail.





Gigliola Cinquetti fará 62 anos em Dezembro, só dois meses mais velha do que eu. Tinha dezasseis anos quando cantou no festival de San Remo em 1964, penso que foi em San Remo.
Não, não me parece que tenha sido ontem que a vi, porque o tempo, naquele tempo, nunca mais passava, um ano era igual a dois ou três de agora.
Mas lembro-me bem do que torci para que ela ganhasse, enquanto assistia à votação do festival da canção.
Dei por mim a olhar enternecida para a letra e a pensar que se fosse hoje esta canção nunca teria sido escrita. Dá para imaginar uma rapariga de 16 anos a dizer que não tem idade para amar? ou que não pode sair sozinha com o namorado? ou querer viver um amor romântico à espera 'daquele dia'? porque era obrigatório casar, nada de confusões e casar virgem, não esquecer. Dá para imaginar ser-se concorrente num festival, gravado pela televisão, vestida de saia e camisola?
Fico-me a pensar no amor romântico.....juras eternas, não conseguir viver sem nós e nós sem ele.....acreditávamos nisso tudo, aos dezasseis anos e mais tarde, embora disséssemos que isso eram histórias da carochinha, no fundo, bem no fundo esperávamos que fosse verdade, pelo menos com cada uma de nós, queríamos ser as inspiradoras, as musas daquele que vivesse connosco.
É verdade que não podíamos sair com o namorado sem o irmão ou irmã irem atrás, dar a mão só às escondidas......por baixo de um livro, Ha!Ha!Ha! Dançar de cara encostada era um perigo, os padres avisavam, um beijo? nunca!!! no entanto ninguém nos preparou para o que a vida nos tinha reservado. As decepções foram muitas e rápidas. Uns ficaram-se, outros viraram a mesa e outros ainda separaram-se.
Sei agora, enfim, há uns anos, bastantes, que ninguém nos pode preparar para a vida.
Eu que sempre fui reguila, que sempre pus em causa toda a educação que me deram, dei por mim a pensar que se não tivesse havido essa educação não tinha existido esta canção que é uma ternura.



18 de maio de 2009

ABRIL/MAIO




Barbara Matthews






Este ano não festejei nem Abril nem Maio. Não festejei na blogosfera, bem entendido, porque no coração festejo em cada dia que me lembro e lembro-me muitas vezes.
Tal como o Natal, Abril é quando um homem quiser e uma mulher também.
Passeando pela blogosfera e tenho-o feito tão pouco, ainda assim deu para perceber o saudosismo que por aí anda..... à solta e eu sem o compreender.
Falam de que não foi para isto que se fez Abril, que falta fazer Abril, que o povo já não ordena, eu sei lá, um monte de coisas, mas quem fala sempre se põe fora da acção e é isso que eu não entendo.
Vejamos as minhas verdades:
Quem fez o 25 de Abril foram uns capitães, a quem agradeço do fundo do coração, que estavam fartos das comissões nas colónias, fartos de verem morrer e ficarem estropiados camaradas seus, fartos de verem morrer filhos com febres, paludismo e malária.
É bom que se não esqueça que não houve povo algum, que não houve partido algum, nem mesmo o PCP.
É verdade que bastou 13 anos de guerra para acabar com um regime que tantos lutaram para deitar abaixo sem o conseguirem. É verdade que deram volta à cabeça dos militares do quadro, mas quem lhes deu uma visão diferente foram os milicianos, principalmente os alferes milicianos, quase todos oriundos de faculdades. No meio desses alferes estariam também PCPs, mas a maioria não tinha partido, eram só contra uma guerra que não tinha sentido. Eram só contra o regime.
A democracia viria mais tarde ou mais cedo, penso, o que ninguém sabe é em que condições e desse passado alternativo ninguém quer falar. Muitos sempre atiram pedras contra a descolonização, sem nunca quererem imaginar como teria sido a descolonização nesse passado alternativo.
O Povo saiu à rua rua, todo, há sempre excepções, a festejar. No 1º de Maio viram-se Mercedes, muitos Mercedes, os BMs ainda não tinham status, Porsches , Ferraris a buzinar pelas ruas, com cravos na mão. Inesquecível.
O Povo nunca ordenou, o Povo sonhou ordenar, esse Povo que somos todos nós, votou e entregou o poder com que sonhava nas mãos de outros, pensando que sonhavam a mesma coisa....não sonhavam! votou outra vez e outra e outra e outra, entregando o poder àquele, dando maioria absoluta e este por diversas vezes, e por uma vez a áquele.... enfim, apesar de tudo não tenho dúvida que estamos, esse Povo, o Povo Português, melhor do que estávamos antes de Abril de 74.
Está mal? E de quem é a culpa? Não me falem em governantes.
A culpa é de todos nós, e de cada um de nós que milita ou não milita, que vota, ou que não vota, mas que de todos os modos escolhe. A mim sempre me surpreende esta facilidade com que descartamos responsabilidades, esta facilidade com que nos sentamos no sofá a mandar bocas para os outros
A culpa deste saudosismo bacoco e minha e tua. A culpa de haver ou não haver Abril é minha e tua.
Nada de tentar desculpabilizar.



16 de maio de 2009

BONS BLOGS






Andava eu à procura de uma imagem, quando me deparei com este blog.
Comecei por um post muito bem escrito e documentado sobre Van Gogh em junho de 2007.
Aqui fica para darem uma espreitadela
Pergunta se quer continuar a ver, aquelas coisas que o blogger faz vá lá saber-se porquê

PORTFOLIO X


14 de maio de 2009

AS FASES DE UMA CRISE IV



Leonid Afremov




- O Nuno sapo, é de morrer a rir, exclama Rita, aquele borraco um sapo!!!
E lá voltam as gargalhadas.
- sim, a imagem é engraçada, remata Isabel, mas o Nuno é capaz de não lhe achar graça nenhuma.
O Nuno, entretanto deve estar a sofrer tanto com o distanciamento, como por saber que Maria “pode” estar apaixonada por outro.
Deve estar a passar por momentos de profundo amor tentando demonstrar a Maria que a ama mais do que tudo e, eventualmente, mais do que todos; deverá querer demonstrar esse amor de forma também física.
Para um dependente a relação sexual será a única maneira de obter o controlo sobre o dominante, visto que para o dependente as relações sexuais são a única forma de possuir o outro.
O Nuno se sentir retraimento da parte da Maria, entrará cada vez mais em ansiedade e medo de a perder, o que fará com que misture o amor com a dor.
Poderá estar, consecutivamente, a fazer-lhe declarações de amor, o que o fará entrar em maior ansiedade, visto Maria parecer estar fria em relação a ele, eventualmente interessada por outro.
- parece estar? pergunta Matilde, está, pelo menos afirma-o
- não é líquido que o esteja, responde Isabel
- explica lá isso, pede Mitó
- não há nada a explicar. Não se sabe se a Maria está verdadeiramente fria em relação ao Nuno ou interessada noutro. Pode ter havido factores que a levaram a pensar que estava, ou ter-se enganado quanto aos sentimentos. Eu sei lá, tanta coisa pode ter acontecido.
- é natural que o Nuno passe, mais tarde por uma fase de raiva contra a Maria, e contra si, por se ter empenhado tanto em não a perder e ela não o ter aceitado. Mais cedo ou mais tarde dará por isso e tentará outras abordagens, porque irá perceber que as suas tentativas não resultam.
Pode tentar fazer-se difícil, ou tentar fazer-lhe ciúmes. O perigo desta situação é poder envolver uma terceira pessoa, se ele ainda estiver centrado na Maria. O que não há dúvida é que o seu sofrimento é real e cada vez maior, podendo achar que não vai conseguir aguentar tanta dor.
A Maria deverá querer separar-se, se o Nuno não se modificar.
- então ainda há esperanças? Pergunta Rita
- se ele conseguir mudar.
Todas as pessoas, quando entram num estado de dor, usando mais uma vez uma imagem, conforme a dor vai aumentando descem a um poço. Depende de pessoa para pessoa, o nível a que está o fundo do poço.
Durante essa travessia do deserto, poderão perder o apetite, ou comer avidamente, ou poderão vir a consumir drogas ou álcool.
Quando se chega ao fundo do poço, o único caminho (não quero falar do suicídio) é para cima, e o dependente mal começa a ascensão, deixa de o ser.
Evidentemente, que se nalgumas pessoas o fundo do poço não é muito fundo, porque a sua capacidade de sofrimento, ou sua auto estima não os deixam sofrer durante muito tempo, haverá outros que para atingirem o fundo demorarão mais tempo, assim como haverá quem tenha uma subida mais lenta e outros mais rápida.
É normal recuperarem toda a sua integridade.
- Isso era tudo muito bonito se não estivessem já separados, acrescenta Matilde
- Foi uma decisão acertada a do Nuno. Quanto mais depressa se afastar mais depressa poderá deixar de ser dependente.
Para isso deveria ter a força de vontade, a auto estima ou orgulho, como lhe queiram chamar, de deixar de ‘namorar’ a Maria. Deveria fazer de conta que ela deixou de lhe interessar, mas esta é uma decisão difícil de tomar, tanto mais se não houver aconselhamento
No entanto a separação pode não ser má de todo. Dá-lhes azo a verem melhor e com mais distanciamento os seus sentimentos. Dá-lhes liberdade para conhecerem outras pessoas e poderem através delas verem melhor o que rejeitaram
- estás a dizer que poderão nunca mais de reconciliar? Pergunta Mitó
- quando duas pessoas se separam não estão a pensar na reconciliação, por isso nós também não o deveremos fazer. Para não termos desilusões. O caso da Joana e do Kiko não é vulgar.
- achas que o Nuno já terá chegado ao fundo do poço? pergunta Matilde
- não faço a mínima ideia. Penso que só ele o saberá.
- e como poderemos ajudar o Nuno? pergunta Mitó
- ajudar o Nuno é difícil de fazer, sem ele o querer. A maior ajuda é mostrarmo-nos disponíveis para ele.
- de que nos serve saber todas as fases? pergunta Rita
Vale a pena saber as fazes de uma crise Rita, para conseguires identificar, se alguma vez entrares em crise, o papel que desempenhas e tentar contrariá-lo. Principalmente se for o de dependente.
Poderás ter mão nos sentimentos e tentar não passar por todas as fases desadequadas. Poderás tentar fortalecer-te, ficares mais independente em relação ao outro, para mais tarde poderes lutar pela resolução da crise.
Não se esqueçam que generalizei muito, que condensei mais e que estive a falar de comportamentos padrão. Não se esqueçam que o dependente também pode ser a mulher e o dominante o homem.
É muito vulgar o dominante ser o homem, e não tem a ver com gerações, mas com comportamentos.


11 de maio de 2009

AS FASES DE UMA CRISE III




Leonid Afremov




- Então diz lá Isabel, pediu Matilde, explica lá porque te parece que o Nuno já foi dominante e já não é.
- porque ao Nuno, desde há uns anos atrás, começou-lhe a correr bem a vida profissional.
Entrou num grupo multinacional onde era difícil entrar, aliás ele foi o único que entrou sem curso superior, lembram-se não se lembram, como ele ficou contente? Depois foi reconhecido como bom no seu campo profissional e, tem vindo sempre a aumentar o seu prestígio, tendo sido promovido várias vezes, além de ter facilidade em agregar consensos.
Por outro lado, a Maria demorou mais tempo até lhe ser reconhecida a qualidade profissional, por isso nessa fase é natural que o Nuno tenha sido dominante.
- mas todos achávamos que eles se davam tão bem, acrescentou a Mitó, e nunca me pareceu que o Nuno não lhe ligasse
- claro que não, acrescentou a Rita. Tanto que gostava dela, que está na merda.
- é isso mesmo. A Maria nunca foi uma completa dependente, porque se conhece muito bem, é bonita, simpática, sabe que o é, faz amigos com facilidade e sempre contou com o amor do Nuno, pois sempre foi o centro dele.
No entanto é uma mulher maternal cujos filhos começam a não precisar dela, quer dizer, como a mais velha é uma rapariga com 11 anos, uma pré adolescente, a necessidade da mãe já não é tão flagrante, começando a sentir que precisa de um espelho exterior ao lar
Foi depois promovida e passou a ter de ir várias vezes por ano ao estrangeiro, como directora comercial, o que lhe dá uma noção de peso na sociedade bem diferente. É-lhe reconhecido estatuto, o que lhe agrada.
Quando foi promovida a vida deles levou um abanão e houve um início de uma crise, que conseguiram resolver naquele momento, mas que deve ter deixado sementes no ar.
Entretanto o Nuno torna a ser promovido para um lugar que lhe exige que ande diariamente a passear pelo país. Fica fora de casa vários dias por semana.
Poderia ter sido bom, mas não foi. Se a Maria pensava que não poderia viver sem o Nuno, ficou a saber que conseguia e que até talvez vivesse melhor. Soube-lhe bem o afastamento.
A bomba aparece personalizada num casal ‘amigo’ bastante mais dela do que dele.
É aqui que se dividem.
A Maria não abre mão de se dar com os novos amigos, ele recusa-se a sair com eles. Parece uma coisa de nada, mas são visões diferentes de vida. Ela quer-se divertir mais fora de casa, ele não
A Maria torna-se dominante, visto que é ela que decide e o Nuno começa a ter medo de a perder.

Notem, que tudo isto se passa no domínio do inconsciente. Penso que a Maria, ainda não se identificou nem como dependente, nem como dominante.
- ainda bem que dizes que é inconsciente, porque não a estou a ver a fazer o papel de controladora, disse Rita
- mas como passou a Maria repentinamente de dependente a dominante? Pergunta Matilde
- passou, responde Isabel, quando o Nuno percebe que está a um passo de a perder, mostra-se perdidamente apaixonado, tentando fazer tudo para lhe agradar, se quiserem uma imagem que diz tudo, “rasteja a seus pés”
- caramba, diz Mitó, quer dizer que a Maria, por mais que ele faça, se vai afastar cada vez mais.
Também não gostava que o meu parceiro rastejasse aos meus pés. Mas o Nuno é inteligente, como cai numa asneira dessas?
- porque foi apanhado pelo paradoxo da paixão, não identificando a fase da crise que está a passar.
A Maria, vai começar a achar enjoativa a situação, vai-se afastar progressivamente, quanto mais insistente ele for.
O Nuno vai deixar de ser sexualmente atractivo para a Maria, que inclusivamente o deixará de achar tão inteligente e tão criativo e, o afastamento acabará por se dar.
- tu não me digas que ela vai achar aquele borracho enjoativo! Exclama Mitó. Dá Deus nozes a quem não tem dentes
E todas se riem como para desanuviar o ambiente pesado que a conversa traz.
- Acaba Isabel, pede Rita, depois de findas as gargalhadas.
- Está longe de estar acabado. Vou acabar a parte do dominante, dando-vos uma imagem.
Enquanto se deram bem, o Nuno era para a Maria um príncipe. Agora mesmo que todos o achem um príncipe, para ela esse príncipe passou a sapo.



8 de maio de 2009

AS FASES DE UMA CRISE II




Karen Cooper




Vamos lá a ver: na paixão como no amor, os dois são dependes um do outro, não se esqueçam que estamos a falar de situações ideais, que é raro acontecerem, continuou Isabel
Estes desequilíbrios podem começar por vários factores. Os casais equilibrados emocionalmente conseguem resolver os conflitos, quase sem darem por isso.
Mas haverá situações em que nem mesmo esses, conseguem resolver o problema sem passar pelo que se chama o paradoxo da paixão e que divide os seres em dominantes e dependentes.
Pode, por exemplo, haver desequilíbrio no chamado poder de atracção
- o que é que isso quer dizer, perguntou Rita
- quer dizer que um deles sentiu que o outro tem mais poder de atracção e começa a ter medo que esse outro que é tão interessante ou bonito, tenha hipóteses acrescidas de atrair outros que o queiram, ficando o primeiro angustiado e querendo agradar ao segundo, a todo o custo.
Isto é importante, porque da “ qualidade da imagem” que temos, depende o sucesso profissional, amoroso, fama, etc., e nunca são demais para o próprio.
Vou, portanto, só nomear os vários factores.
Desequilíbrio circunstancial, como por exemplo mudar de cidade, mudar de emprego, perder o emprego, ter filhos, são sempre períodos stressantes.
Se, se juntarem dois destes factores, o desequilíbrio será enorme e até casais estáveis passarão por um período bem difícil.
Estilos de personalidades, bem diferentes, também podem causar desequilíbrios graves.
Frustração Professional ou desadequada em relação ao outro.
E já está? perguntou Mitó. Que podemos inferir daqui?
Vou-vos explicar como funciona o dominante A e o dependente B, em termos gerais, depois debruço-me sobre o que sente cada um.
O desequilíbrio insinua-se primeiro, para só depois se instalar.
Quando B sente estar em desvantagem, ficando na posição de dependente do amor, faz qualquer coisa, na maior parte dos casos erradamente, inadequadamente, para agradar a A.
B passa a amar mais, a estar mais apaixonado por A, do que A por B.
A sente confusão por já não funcionarem a dois. A sente de repente uma sensação de controlo em relação a B. Sente-se tão segura e tão confiante, que deixa de se sentir atraída por B.
Entram numa reacção em cadeia, quanto mais B tenta agradar, mais A sente que o controla e desinteressa-se, acabando por o rejeitar.
Num casal equilibrado, esta predominância de poder ou de domínio é a maior parte das vezes de alternância, e os próprios quase a não sentem.
- então a Maria é a dominante, e o Nuno o dependente? Pergunta Matilde
- neste momento é o que parece, responde Isabel. Mas tenho a impressão que já aconteceu o contrário, ou seja que o Nuno já foi o dominante.
- ouve lá Isabel, a partir daqui podíamos falar da Maria e do Nuno, interpela Rita, porque o que queremos saber é como os poderemos ajudar.
- não me importo, desde que sejam discretas, assentiu Isabel.


6 de maio de 2009

AS FASES DE UMA CRISE I





Karen Cooper





......... - Pois é Matilde, mas se os amigos se começarem todos a separar, vamos todos sentir algum desequilíbrio emocional
Todos julgam que os grupos são fortes, mas quando se começam a desintegrar, é o próprio grupo que fica mais frágil....só que agora já são os nossos filhos que se estão a separar...Um ano e tal depois cá estamos com outra separação, não é Matilde?
- outra....se tiver o mesmo fim que teve a da Joana e do Kiko, bem vai o mundo.
- Sei lá, muitas vezes penso que a Joana e o Kiko parecem bem, mas nunca tenho a certeza, diz a Rita
- isso é normal, respondeu a Isabel, ficamos sempre à espera de uma próxima vez
- e desta vez Isabel , pergunta Rita, a Maria ou o Nuno já te pediram conselho? Estes como são mais novos já podiam ter recorrido a ti
-respondo-te a mesma coisa que te respondi o ano passado:
mesmo que algum deles tivesse ido ao meu escritório, podes crer que não teria dado nenhum conselho a não ser dar-lhes o nome de vários dos meus colegas, para eles decidirem quem os iria acompanhar.
Mas essas coisas já estão descritas, há muito tempo. Quem quiser saber alguma coisa é só ir ler.
E se as meninas querem uma aulinha como a do ano passado, vou já relembrá-las e mudarei os nomes e a situação que parecendo ser bem diferente até o não é assim tanto.
Ora vejamos:

- O que as meninas querem é uma aulinha de psicologia dos problemas matrimoniais, em vez de pegarem num livro e irem ler...resmungou com ironia sorridente Isabel.
Para isso é necessário definir o que é paixão e amor....
- isso todas sabemos o que é, interrompeu Rita a impaciente
- ....em termos profissionais. Ainda achas que sabes o que é Rita?
- parto do princípio que o mesmo que todas pensamos.
- estás bem enganada, todas temos conceitos bem diferentes sobre estes assuntos. Ora nestas coisas das psicologias precisamos sempre de definir, para se passar a falar em termos de padrão, e não do que cada um pensa, ou então nunca mais ninguém se entende.
Estão com paciência para ouvir umas quantas definições e eu vou tentar ser rápida?
- força! disse Matilde, estou cheia de curiosidade.
- Segundo o dicionário “paixão é a emoção sobreposta à razão”.
Inicialmente a paixão pode-nos confundir e fazer-nos pensar que estamos perante o verdadeiro amor. Ambos causam as mesmas sensações e descontrolam-nos. Segundo Freuf a paixão provoca uma dinâmica emocional chamada catexia, que acontece quando concentramos tanto as nossas emoções no outro, que perdemos o controlo sobre elas, ficando descontrolados.
Esta sensação de descontrolo é acompanhada, entre outras , por uma angustia de rejeição, que se revela no ciúme e na insegurança.
Mais uma vez Freud diz que “nunca nos vemos tão desprotegidos contra o sofrimento como quando amamos”
- mas a paixão pode não evoluir para o amor, acrescenta Mitó
- tal e qual, afirma Isabel.
Declarar o seu amor é sempre um factor de risco, por isso muitos amantes não o confessam esperando sempre que o parceiro os encoraje. Por isso, quando o confessam, esse momento passar a ser um marco importante no relacionamento começando a verdadeira intimidade e a gradual diminuição da angústia de rejeição.
O amor bem sucedido faz com que recuperemos o controlo emocional, faz com que sosseguemos, e consigamos continuar a nossa vida, o que é difícil quando estamos loucamente apaixonados. O amor é um relacionamento de equilíbrios, ambos se asseguram do amor do outro. Nenhum dos dois se sente sufocado ou enganado emocionalmente, nem se subestimam, sendo a sua intimidade gratificante e saudável.
O amor é mais dócil e profundo, fundindo as duas pessoas numa parceria emocional íntima, nutritiva, confortável, e muitas vezes excitante. Sente-se muitas vezes que se procuraram toda a vida e que finalmente se encontraram.
Muitas vezes estes equilíbrios são destabilizados pelo intenso desejo do prazer e o medo de rejeição.

NOTA: Este texto foi editado a 28 de Janeiro de 2008 no Claras em Castelo.
Estou a adaptar estes posts editados no Claras em Castelo, porque acho que continuam na ordem do dia, e neste blog há muitos visitantes diferentes.
O exemplo dado nestes posts é diferente do dado no Claras em castelo, mas ambos são reais.


4 de maio de 2009

FELIZES PARA SEMPRE?








As folhas, em contra-luz naquele fim de tarde, pareciam rendas pretas, completamente desenhadas, era assim que lhe parecia que a via agora
Iam vinte anos desde que começara a namorar, aos 15, tão crente que aquele amor duraria toda a vida, no entanto ali estava ela com aquela angústia dentro, com aquele medo de não ser rainha do mundo, olhando para trás e esquecendo quanto fora amada e amara, sentindo aquele vazio que dava por volta dessa idade, agora a várias mulheres, no fundo, ainda agarrada aos sonhos de infância, querendo que a paixão fosse um crescendo, não aceitando o seu desaparecimento, achando tão pouco o amor e a rotina do dia-a-dia.
Dissera-lhe que o pior era não lhe poder falar, mas era o que agora lhe fazia, sabendo tão bem que esperava o seu telefonema, diariamente, olhando o relógio, não sabendo se de manhã ou de tarde, talvez à noite...
Mulheres que vingam profissionalmente mas que ainda esperam pelo seu príncipe, embora nunca, mas nunca o confessem...riem até desdenhosas se por descuido alguém lhes fala em mitos...têm necessidade de paixão, precisam de juras eternas, não se contentando com menos, julgam elas, sem se darem conta que, tantas vezes, perdem o que de melhor tiveram
Sabe que há melhor, sabe que já teve melhor, não sabendo fazê-lo renascer, procura-o fora, sem medir, obstinadamente, pensando só que tem esse direito e tem.
Continua a olhá-la em contra luz, pensando na mudança profunda que vai acontecer dentro do grupo deles que vão, alguns, de certeza, fazer escolhas entre eles, tomar partido e, por acréscimo dentro do seu grupo de pais e avós, todos amigos, que vão ter de se habituar a conviver com as crianças sem pai ou sem mãe, com mais um namorado e uma namorada, o grupo deles também partido, quase perdido…..
Lembra-se como se sentiu quando se separou...nunca pensou no grupo nem nos outros....Parece fácil não é? Só quando somos nós a tomar as decisões, quando são os outros...
Trinta e cinco anos, nem sequer metade da esperança de vida, mas aquela angústia de ser só aquilo a vida, os filhos já quase adolescentes, casa emprego, emprego casa, embora com bom nível de vida, mas aquela angústia de pouco traço se deixar, ainda a vontade de mudar o mundo, de deixar ficar rasto histórico..um filme, uma grande história de amor, não ser só, porque parece tão pouco, foram felizes para sempre Sonhámos todas, penso, no ser feliz para sempre, mas com glamour, seja lá isso o que for, mas na tranquilidade do dia-a-dia é difícil o ser feliz para sempre ser reconhecido.
Uma pena!!!




1 de maio de 2009

ACABOU O MUNDO PERFEITO!!!








Soube hoje pelo LUIS MAIA que a ISABELA acabou com o seu MUNDO PERFEITO.
A sua razão é esta;

«Decidi assim porque não quero que haja aqui equívocos, os quais nunca alimentei; as coisas são simples: quem manda aqui sou eu, sempre foi assim; os textos que aqui publiquei pertencem-me inteiramente do ponto de vista legal e não tolero que sejam usados para fins que considero moralmente questionáveis. Sou eu que decido o que fazer com eles.»

Acabou da maneira mais drástica que o podia fazer, esvaziou o Mundo Perfeito, só ficou o seu último post, nem um mais de todos aqueles com que me deliciei, durante mais de dois anos em que o segui. Algumas vezes, felizmente, não estive de acordo com a Isabela, algumas vezes discuti com a Isabela, duas vezes para ser mais precisa e ainda no Claras em Castelo.
Li também e deixo o link, porque nunca conseguirei escrever melhor sobre o que se passou do que a HIPATIA e só respondo ao comentário que ali deixou a Isabela.
Não há indiferença, pelo menos do meu lado, Isabela.
O que fizeram com o seu texto foi uma infâmia e li esse post, aliás li sempre todos os seus posts, mesmo que com vários dias de atraso.
Não comentei Isabela, e peço hoje e só hoje desculpa por isso, estou envergonhada por o não ter feito. Estava de acordo com a sua indignação e não achei necessário dizê-lo. Foi um erro tremendo.
Numa acção destas, em que um blog, pega num texto de um autor, lhe dá o crédito da autoria, mas o açambarca, o descontextualiza completamente, apodera-se dele, para o usar no sentido contrário com que foi escrito, um texto íntimo escrito contra o racismo que foi usado para provar como deveria ser o mundo, por um blog de extrema direita, nunca seria demais ter chamado os bois pelo nome.
Deveria ter gritado a infâmia. Alto, bem alto!
Acho que nunca me arrependi tanto de uma não acção cometida
As minhas desculpas por o não ter feito, Isabela
E agora já não há MUNDO PERFEITO