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30 de janeiro de 2009

A VIAGEM









10º JOGO DAS 12 PALAVRAS NO EREMITÉRIO



Deu por si a pensar se alguma vez teria existido amor, se não teria sido só PAIXÃO o que os unira.
Olhou o horizonte que naquele dia estava particularmente LÍMPIDO, enquanto sentia o barco, o seu barco, a deslizar sobre a água tão azul quanto o céu estava. Olhando a esteira notou, como esperava que acontecesse, que a DERIVA era nula. Rejubilou! o seu barco, construído com o seu desenho, que todos achavam ESCAGANIFOBÉTICO e que ele sentia SINGULAR!
A paixão já tinha passado e o dia-a-dia corria rotineiro, cada um para seu lado, crescendo e tendo diferentes interesses. Sim, talvez só tivesse existido paixão e com ela passada, a capacidade de se esforçarem para haver entendimento e compreensão, tivesse passado também.
Um dia, explicou-lhe que tinha chegado a altura de cumprir o sonho, que ela sabia, que acalentava. Estava na hora de partir no seu barco, para uma viagem sem tempo nem rumo.
O ‘SALSIFRÉ’ que ela lhe fez, acabou com o que já nada restava e ele passou a ser a FÁBULA da família dela.
Partiu nos primeiros dias do NOVO Ano. O importante era QUERER ser AUTÊNTICO, encontrar-se, RENASCER.
Ele, o barco e a vastidão do Universo. Estava Feliz, em Harmonia e o SUPREMO olhava por ele.


28 de janeiro de 2009

TUDO MUDA








Muda a lagarta para vir a ser borboleta
Muda o óvulo fertilizado para vir a ser aquela linda criança, muda a criança naquele adolescente reguila, que muda para vir a ser Homem.
Mudam as vontades e os corações
Mudam os sonhos e os ideais
Muda o pensamento das gentes e o que seria bom amanhã, já o não é no dia a seguir
Muda a inteligência e o saber
Muda principalmente o sentir, pela vida fora vai minguando nuns, aumentando noutros
Muda o descobrir, o querer
Mudam as crenças e as fés, umas abrem-se à diferença, outras tornam-se facciosas
Muda a paixão e o amor
Muda a paz em guerra e a guerra em paz
Muda a saudade de Casa, muda o nosso interior
Mudam as estações, mudam os dias em noites
Muda o Homem em Velho, muda a Morte em Passagem
Expande-se o UNIVERSO
Mas sempre permanece a LUZ e o AMOR


A OLHAR O MAR



Foto de LUIS BRAVO



Olho-a quando vou a passar, por ter ouvido umas fungadelas.
Chora, aquela mulher que ali está, chora.
Lágrimas gordas escorrem-lhe pela cara abaixo, às mil de cada vez, os ombros tremem, os soluços, penso que soluços, não se ouvem, mas de vez em quando todo o seu corpo estremece.
Aproximo-me, não consigo passar adiante, nunca o consegui fazer perante lágrimas, sejam elas de quem forem.
Ponho-lhe a mão no ombro sem nada dizer, nem sei o que dizer a quem chora daquela maneira e sem eu a conhecer.
Levanta a cara cheia de mil rios, olhos já inchados e começa a falar, uma torrente que galga
- Estou tão cansada, tão farta, tão farta. Sempre quis morrer cedo, mas não, não me foi dada essa hipótese. Só uma vez pensei em me suicidar, mas não, não sou suicida. Porque não haverei de ser? Porque talvez, apesar de tudo, goste tanto de viver e até sei que devo ter coisas para fazer, mas a vida cansa-me tanto….um dispêndio de energias tão inútil, tão fútil, tão… tão… tão trágico, por me tolher, por me cansar desta maneira idiota que me faz ficar tão farta, tão farta, tão farta.
E os rios continuam a vazar daqueles olhos belos, mas tão tristes que quase fazem dó.
- sempre fui maltratada, pelos pais, mais pela mãe, jurei a mim própria que haveria de ser feliz e consigo sê-lo contra tudo e contra todos, mas já não aguento continuar a ser maltratada. Ele em mim só vê merda, e devo sê-lo para continuar com ele ao fim de todos estes anos.
Grita, grita sem fim, quanto mais percebe que me afecta, mais grita, insulta, embirra por tudo e por nada, nunca faço nada bem e para aqui estou a chorar em vez de estar em casa a fazer as malas.
Continuo com a mão em cima do ombro dela, sem nada dizer, ouvindo-a e pensando porque será que às mulheres é dada esta capacidade de sofrimento que em vez de virarem a mesa, partirem a louça, vêm para a rua chorar, viradas para o mar
- gosto dele. Genuinamente gosto dele. Tem este feitio horrível, mas tem coisas também tão boas. Não percebe que esta sua maneira de ser é de uma violência incrível, porque os homens só acham que é violência quando começam a bater, e mesmo assim….
As lágrimas já secaram, percebe-se a sua força interior, percebe-se que é capaz de mais uma vez, pelo que diz, de voltar a casa.
- que será que nos faz gostar de quem nos faz mal? Se um cão nos morder é bem possível que seja abatido, mas amamos um homem que diz que também nos ama, que não se consegue dominar e grita e insulta até mais não poder e ainda diz que a culpa é minha. A culpa nunca é dele, nunca é capaz de pedir desculpa, tem sempre razão, mesmo quando grita sem tom nem som, por nenhuma razão e percebe que a não teve, nunca, mas nunca pede desculpa. Há-de sempre arranjar uma maneira da culpa ser da outra, ou seja, minha. Cansa tanto viver assim e não ser capaz de virar as costas. Cansa tanto, mas tanto, se soubesse o que cansa.
E ali ficamos as duas a olhar o mar, sentado ao seu lado, com o braço por cima dos seus ombros, caladas, a olhar o mar, a olhar o mar



26 de janeiro de 2009

NATAL IV



EnHigma



No meio da noite mais escura, mais negra, mais tenebrosa, fugiu.
Não quis olhar para trás, nem sequer espreitar o que deixava. Pensou que deixava a mágoa, a dor excruciante que tinha provocado a ruptura. Respirou aliviado, por ter encontrado a sua liberdade, a sua independência, a sua alegria.
Vadiou de rua em rua, sempre feliz, de lugar em lugar, as ruas já eram pequenas, de país em país, já sem nada olhar, de continente em continente, não conseguia estar parado, de mar em mar, amargurado.
Parou um dia, na rua de onde tinha fugido, olhando-a sem perceber a razão de todos aqueles anos de fuga. A mágoa estava dentro dele, não no local nem nas pessoas que lha tinham infligido. A fuga tinha servido para fazer desaparecer a raiva, o que já não era mau. A dor ficara, não tinha conseguido resolvê-la apesar de já terem passado tantos anos.
Inicialmente embrulhara-a bem apertadinha e escondera-a bem lá no fundo onde não fosse possível encontrá-la. Mas de vez em quando, lá está, muito de vez em quando, vinha-lhe à memória, mas olhava para ela com inteligência, mirava-a por todos os ângulos e lados e chegava á conclusão que já não era dor, era só uma memória que o incomodava.
Uma das pessoas que lha tinha infligido cruzou-se com ele, por acaso, num dia nevoento e pediu-lhe desculpa, da maneira mais errada, mas pediu desculpa. Ele, não o percebeu durante anos, reagiu fortemente, disse que já tinha perdoado mas que nunca esqueceria.
Tantos dias que correram para passarem tantos anos até perceber que na noite mais tenebrosa, mais escuro, mais negra, há sempre luzes que estão ao lado, há sempre nuvens que se afastam para deixar passar os últimos raios de um maravilhoso Sol que já se pôs, mas que é promessa de um novo dia.
NATAL É QUANDO PERCEBEMOS QUE HÁ SEMPRE LUZ DENTRO DE NÓS.


25 de janeiro de 2009

SELVAGENS/CIVILISADOS

Índios Guerreiros da tribo Xavante



Esta história, VERDADEIRA, foi indecentemente roubado ao ELCIO, porque sei que muitos não passam por lá. deviam lá passar para saberem de onde a tirou e como acaba o seu post.
TEM DE SER LIDA!!!!


«Sábios Xavantes ( em 1974)

Dois índios Xavantes foram convidados para visitar a cidade de São Paulo, numa época em que eles não usavam o dinheiro como meio de qualidade de vida. Para eles, qualidade de vida era alimento, porque era o jeito de garantir a sobrevivência.
Boquiabertos com a Avenida Paulista, andaram de metrô e ficaram pasmos com a velocidade daquele transporte. Foram no shopping e ficaram intrigados com tantos espelhos, pois comentaram: Se você esta consigo mesmo a todo instante, por que iria querer se ver?
( Achei isso o máximo).
Foram ao mercado municipal e assim que entraram ficaram pasmos. Pilhas de alfaces, tomates, cenouras, laranjas, bananas e etc. O olhar deles era o mesmo caso nós tivéssemos entrado no cofre do Banco Central.
De repente um deles viu uma coisa que talvez nenhum de nós fossemos capazes de observar, ou talvez apesar de ver, não comentássemos.
O QUE ELE ESTÁ FAZENDO? e apontou para o menino negro que no chão pegava alface pisada, tomate estragado, batata moída, laranja podre e colocava num saquinho, pois para nós aquilo seria normal...NORMAL?
Ah...respondi: Ele está pegando comida...
NÃO ENTENDI.
POR QUE ELE ESTÁ PEGANDO COMIDA ESTRAGADA DO CHÃO, SE TEM PILHAS E MAIS PILHAS DE COMIDA BOA?
È que ele não tem dinheiro?
NÃO TEM? POR QUE NÃO TEM DINHEIRO? Indagava o cacique.
Por que ele é criança...E O PAI DELE TEM?
Também não...NÃO ENTENDI, POR QUE VOCÊ, QUE É GRANDE TEM, E O PAI DELE, QUE É GRANDE, NÃO TEM?
DE QUAL PILHA VOCÊ COME? DESSA DAQUI OU A DO CHÃO?
Dessa daqui.
POR QUÊ? “Sabe o que é? É que aqui é assim mesmo...
VAMOS EMBORA...
E foram, não do Mercado Municipal, mas de São Paulo, e deixaram para sempre na minha memória, a seguinte frase:
“ VAMOS EMBORA...ELES SÃO SELVAGENS”
“ ELES NÃO SÃO CIVILIZADOS” »

ALMA



Claude Théberge



Pela tua alma perdi-me no teu peito
Além do corpo desse teu sorriso
Mas só um beijo a que tinha direito
Me dedicaste e já sem ser preciso

O que vivemos e o que sonhámos
O nosso olhar tão vivo e tão desperto
Recorda agora o que não conquistámos
E que afinal estava ali tão perto

O corpo da alma talvez mas por medida
Queremos para conter o amor ardente
Que o desejo acende nesta vida

Alma do corpo tacto que se sente
Mas que depois tambem o tempo olvida
Esquecendo assim o que foi tão urgente


Poema de FERNANDO TAVARES RODRIGUES
In XXI Sonetos de Amor, ficheiro que me foi enviado por NONAS




23 de janeiro de 2009

PONTES




Resolveu que tinha de construir uma ponte, ou mais, sabe lá, ela que gosta tanto de pontes, que as olha sempre fascinada mas que está farta de usar as pontes que outros construíram e que só a levam a locais de onde quer regressar, margens que dela não são e que está tão farta
Seria mais fácil, talvez, voltar a um tempo primordial onde as tivesse que construir, se quisesse sair de onde está.
Assim pensando vai passeando pela floresta que bem conhece, tantas vezes já trilhada, saltando ali por cima de um tronco, resvalando acolá no musgo húmido deste dia de nevoeiro intenso, fechado, onde a luz chega mal e filtrada, coração pesado sem saber a razão, deixando de pensar na ponte que quer construir, para fixar a atenção no caminho que vai pisando, apetecendo-lhe dar pontapés nas pedras que vai achando pelo caminho triste, molhado, escorregadio, mas que a sua teimosia a faz percorrer, infiltrando-se cada vez mais, já em lugares nunca visitados, insistindo obsessivamente, com vontade de se perder, de nunca mais se achar num mundo que lhe vai fechando a retaguarda sem lhe abrir horizontes, escorregando, quase caindo, alma apertada, pequena, palavrão na ponta da língua, raios que agora caiu mesmo, encharcada, pondo-se em pé com má vontade, dizendo para si que à próxima se deixa ficar ali prostrada, prostrada era uma solução, depor as armas, desistir da luta, ficar ali fechada e agora foi um ramo que não viu que a escalavrou toda, afasta mais um ramo, que pouça de caminho é aquele como terá ali chegado, é o dia que a faz estar assim e daí talvez não, já não quer saber a razão de coisa nenhuma e resvala mais uma vez deixando-se ir, sem se agarrar a nada, lembra-se então do prazer dos escorregas da infância de como era fácil subir uma e outra vez e deixar-se escorregar por aquele declive abaixo que parecia que não tinha fim, vem-lhe á memória o olhar e o sorriso de felicidade que lhe aparecia no rosto, como se o mundo fosse só dela e devagar devagarinho volta a aparecer-lhe no rosto esse mesmo sorriso, agora de ternura para quem foi.
Está sentada no chão e tudo lhe parece diferente, olhando á sua volta vê uma ponte que não foi feita por ninguém, feita só pela natureza e ergue-se mais uma vez, por se sentir desafiada, já lhe baila um sorriso de felicidade, só de pensar que vai atravessar aquela ponte pé ante pé, com cuidado para não cair porque desta o tombo será sério, um pé de cada vez, braços no ar para se equilibrar.
Quando chega a meio, só quando chega a meio, o nevoeiro começa a abrir deixando passar uma luminosidade que a encanta, parecendo a abertura de uma gruta e só nessa altura percebe que tem onde se agarrar e fica ali fascinada, percebendo que finalmente encontrou a sua ponte, que a irá levar para onde quiser. Deixa-se ficar mais um pouco, a interiorizar aquela luz, sabendo já que se vai deixar escorregar pelo ramo que está ali mesmo ao lado e seguir em frente.



21 de janeiro de 2009

ESPERANÇA/ILUSÃO



timesonline




Como costume o FUNES fez análises, claras, em três posts, a que não consigo fugir, ao optimismo e esperança que temos depositado em Obama.
Em comentários, também tenho chamado a atenção para as demasiadas expetativas que se estão a criar em torno de Obama.
Não é um Salvador!
Por exemplo, é bom que tenhamos a noção que o que se passou ultimamente no Médio Oriente teve a sua aprovação. Se não a tivesse tido, não teria ficado calado todo este tempo, nem a pressa dos Israelitas teria sido tão grande, nem as tréguas teriam sido feitas exatamente antes da tomada de posse do novo Presidente, tudo pronto para Obama aparecer como o fazedor da Paz no Médio Oriente.
Esperança é uma coisa, ilusão é outra.
Funes não fala disto, apesar de o saber de cor e salteado, porque simplesmente está de acordo.
Existe agora a questão do Irão.
Sabe-se que Bush não deixou os Israelitas atacar o tal local onde o Irão está a fazer o enriquecimento de Urânio.
Obama já disse que iria oferecer dinheiro ao Irão para parar o programa nuclear para eletricidade.
Não acredito que o Irão aceite. Eu não aceitaria.
Também se sabe, segundo os especialistas, que sempre disseram que o Iraque não tinha armas de destruição maciça, que o Irão não tem condições para construir uma bomba nuclear nem daqui a dez anos, por isso para mim, como estado soberano que é, o Irão tem o direito de escolher as suas políticas de energia. É uma questão de Justiça, que para nós ocidentais só existe enquanto o vizinho não nos chatear.
Por isso é provável que haja guerra no Irão, mas mais uma vez porque se quer o petróleo.
Como disse o José Torres (Xistosa), num comentário no post anterior, o dólar vale pouco, e uma das maneiras de os países desalinhados chatearem a América é deixarem de aceitar dólares, como faz o Irão. A América, fica com a sua moeda mais fraca e o seu deficit aumenta estrondosamente. Qualquer empresa que tivesse as dívidas que tem a América já tinha falido há muito. Quem é que empresta dinheiro à América neste momento? A China!!!
Já foi dito por Obama, que sairá do Iraque, foi também dito que irá endurecer a guerra no Afeganistão, que é para onde se devem dirigir algumas das tropas que estão no Iraque, além de ir exigir à Europa que envie, também, mais tropas, veremos em que quantidade.
O Afeganistão poderá ser um novo Vietname para todas as tropas ocidentais, pois é bom não esquecer que os Russos, no tempo da União Soviética, estiveram por lá treze anos e levaram uma “sova” de um povo que quase não tinha armas, e que a América ajudou contra os Russos.
Como vêem nada é simples, nada é fácil.
Ter Esperança é uma coisa, estar iludido é outra.
Eu gosto de Sonhar….



20 de janeiro de 2009

UM POLÍTICO DA “NOVA ERA”?






TOMOU POSSE!!!
É O TEMPO!!! DE NOVOS POLÍTICOS!!!
Com um discurso onde expõe o que pretende para a América e para o Mundo.
Duvido que a Europa esteja preparada para um tal Presidente
Duvido que Israel e os Palestinos estejam preparados para este Presidente
Duvido que o Irão, Rússia, China acreditem neste Presidente
A América tem deixado rastos de ódio por todo o mundo, não vai ser fácil ganhar-lhes a confiança e deixou um ‘mas’…
sempre me horrorizam os ‘mas’, principalmente quando podem decidir da guerra e da Paz
De todos os modos foi um discurso “aos Homens de Boa Vontade”
Haverá muitos? Haverá muitas Nações cujos políticos sejam “Homens de Boa Vontade”?
O busílis de todo este discurso é que os Homens de Boa Vontade, serão sempre e só os políticos.
A fé neles é nenhuma. A minha, particularmente.
Mas foi o mais BELO DISCURSO que me foi dado ouvir, feito por um político.
Estaremos todos cá, espero, para seguir o desenvolvimento que terá, na prática, toda esta Vontade com que está revestida a BELA teoria.
PARA MEMÓRIA FUTURA




16 de janeiro de 2009

PASTOR




EnHigma




A vereda era estreita e pedregosa, mas era o único caminho que sabia existir para chegar aos campos onde ia ficar, mais as cem ovelhas e cordeiros, durante os três meses de verão. Tinha de se saber onde ficavam as boas pastagens, verdes, com água, suficientemente grandes para poderem comer todas as cem, durante três meses, sem andarem a focinhar o chão, o que as feriria, com redil e onde se pudesse também abrigar.
Comida para ele, bastava um naco de pão e algum queijo, que iria comprar na aldeia que ficava perto, quando as recolhesse.
Quisera partir mais cedo este ano, lembrando-se do calor por que tinham passado no ano anterior, lembrando-se do suplício que tinha sido chegar aos diversos locais para passarem a noite, as ovelhas cansadas quase recusando-se a andar.
Não, não tinha cão, não precisava. Sabia o nome de qualquer delas que vinham ao seu encontro mal as chamava, era necessário atenção, concentração, a ver se nenhuma se tresmalhava, mas era fácil achava ele, que gostava da sua profissão.
Eram chegados. Eis o campo.
Ali bem no alto, um planalto formava o local ideal para se recolherem, a meio caminho do horizonte começavam as serranias e descendo uma delas, encontravam uma lagoa que era alimentada todo o verão pela água que escorria das terras impregnadas, da chuva que tinham acolhido e onde as árvores, algumas ainda desfolhadas, se refletiam perfeitas na água. Às vezes até parecia que o mundo estava às avessas.
Ainda ali estava o redil, quebrado aqui e além, pela invernia rigorosa que por ali tinha passado.
Acordaram no princípio da madrugada, quando o azul passara a rosado, mas o sol ainda não tinha despontado. Ficou de pé, maravilhado como sempre, esperando para ver o sol nascer. Dentro de si nasceu um cântico de louvor, cujas notas só as ovelhas ouviram, parecendo extasiadas, só se mexendo quando a última nota se espalhou por todo o planalto.
Começara o dia.
Ele não se cansava de olhar o horizonte a perder de vista, sentado em cima de uma pedra, sentia que fazia parte da natureza e achava normal, nem poderia ser de outra maneira, teria de estar sempre sintonizado, se queria ser um bom pastor. Sabia quando vinha chuva, se vinha de dia ou de noite, então dormia enrodilhado no meio das ovelhas que o abrigavam da chuva.
Mas para ele, a sintonização perfeita dava-se naquelas noites mais claras, pontilhadas pela lua, em que ainda conseguia ver o Cosmos estrelado de milhões de luzes tremeluzentes, deitado no chão com a cabeça encostada à sua Estrela, a ovelha preferida, doçura viva, olhava a lua toda a noite e sentia que voava pousando os pés nela, para logo voar ainda um pouco mais longe, para junto das estrelas, onde pousava também
Ninguém lhe viesse dizer que não estava acordado, porque sentia e para se sentir tem de se estar bem desperto.
Os sonhos tinham sido realizados, o contacto tinha sido estabelecido, agora era a hora de pôr em prática tudo o que tinha aprendido.
Soube, quase no fim do verão, que tinha sido a última vez que ali estivera, as lágrimas caindo-lhe pelas saudades que já sentia, que sabia que iria sentir por todo o resto da sua vida.
Voltou a casa para entregar as ovelhas aos pais e partiu.



14 de janeiro de 2009

CRISE? E DEPOIS DA CRISE?





autor desconhecido





Estou em fase de ver o mundo cor-de-rosa.
Eu sei que não está bom para isso, pelo menos aparentemente.
Os partidos são todos iguais, querem o poder e pouco mais. Já deram provas disso o CDS/PP, o PSD e o PS. O PCP também já mostrou o que pode acontecer a este país se para lá forem, só falta o BE provar alguma coisa, mas como são tão poucos, não são, por enquanto, alternativa para governar. Mas o problema dos Governos e dos governantes, é a nível internacional.
Este quadro preto é bom. Está alguma coisa para mudar, quando não se vêem alternativas.
Está, também, alguma coisa para mudar no plano económico. Claro que os economistas, dirão que nem pensar, que não há alternativas ao ‘mercado’, mais ou menos neo-liberal conforme quem fala.
Quando não há alternativas, há sempre, mas sempre uma mudança.
É a segunda vez na história moderna da alta finança, que quem mais perde com a crise é o ‘rico’. Da primeira vez a cura que se encontrou foi o mercado livre, que deu em mercado selvagem. Desta vez a cura tenta ser a mesma, mas talvez não vá resultar.
Digo que quem mais perdeu foram os ricos, porque os mais pobres, embora possa parecer uma hipocrisia e garanto que não é, têm vivido sempre em crise, em fome e miséria. Costuma-se dizer que quem paga a crise é a classe média e os trabalhadores. Já não há operários, pelo menos no sentido que tinha nos anos setenta. Hoje os operários são os trabalhadores que pertencem à classe média.
Nesta crise e com o caso Madoff, quem perdeu foram os ricos. É bom não esquecer que estes ricos, porque muito ricos, são também mecenas das artes e filantropos.
Os países ditos ricos, estão em recessão, todos.
Aflige-me saber que o não poder ajudar os países pobres, onde a miséria e a fome é uma constante, vai provocar ainda mais mortes, por fome e por doenças.
A China tem já milhões de pessoas que estavam empregadas, ganhando mal e porcamente o seu sustento individual, em condições infra-humanas, desempregadas, que não terão nem um tostão para comer. Estão-se a deslocar das cidades para o campo.
Mas mesmo assim, continuo em estado cor-de-rosa.
Vai haver mudanças, tem de haver mudanças.
Quando há uma mudança, acaba primeiro o que se conhece, para depois se poder reconstruir.
É hora de mais uma vez haver sonhos. É hora de mais uma vez lutarmos por eles.
Não podemos esquecer que tem de começar por cada um de nós, que teremos de nos modificar, que teremos de insistir, de obrigar os mais inamovíveis, que queremos desta vez, que fazemos questão desta vez, de participar na Reconstrução
de um Mundo Melhor
para um MUNDO NOVO.


13 de janeiro de 2009

PRÉMIO







A JÚLIA do belíssimo blog 0 PRIVILÉGIO DOS CAMINHOS, nomeou-me para este prémio

O prémio tem regras, iguais a todos os outros, mas.....(risos) há sempre um mas

deverá ser atribuido só a mulheres:

- copiar o prémio e colar no seu blog
- fazer referência do meu nome e colocar o endereço do meu blog
- presentear seis Mulheres cujos blogs sejam uma inspiração para si
- deixar um comentário nesses blogs para que saibam que ganharam o prémio

Desta vez vou pôr os links, porque se a Júlia não tivesse posto, eu não teria conhecido dois blogs, que vieram direitinhos ao meu coração.

MARIZ - blog SOU PÓ E LUZ

MATESO - blog aArtmus

HELENA - blog ESTÓRIAS DE BICHAROCOS E BICHARADA

INÊS - blog MIGALHAS

TMARA - blog ESTRANHOS DIAS E CORPO DO DELITO

XANTIPA - blog A SENHORA SÓCRATES

ESCARLATE.DUE - blog ESCARLATE.COM

12 de janeiro de 2009

FOGO




EnHigma





O fogo envolve-a.
Tenta resistir-lhe, chiando, gemendo, estalando, agitando-se numa tentativa vã e desesperada de lhe fugir, esquecendo que tem raízes, essas mesmas raízes que a tornaram tão bela e majestosa, que a agarram à terra que também é Mãe, não a deixando sequer tombar.
As árvores querem-se de pé, mesmo morrendo.
Dilacerada, abre-se em chagas deixando escorrer a sua seiva que vai alimentar o fogo, que a faz explodir em mil gotas feéricas, outros tantos mil fogos que se espalham pela Mãe que também terra é e pela floresta, incendiando outras tantas iguais a si.
Ele viu tudo desde o pequenito fogo de quase nada que se ia arrastando campo fora coberto de restolho seco, avançando palmo a palmo na direção proibida, já engrossado, sem ninguém acudir, aquilo era pouca coisa, até chegar à floresta que tinha dois belos e ancestrais carvalhos de sentinela. Devagarinho o fogo lambeu o primeiro até o envolver.
O fogo já era incêndio e as lágrimas escorriam-lhe pela cara ao ver a dimensão que atingira.
Tentou deixar de o ver, o que era impossível, pois o braseiro refletia-se nos vidros, nas paredes e dentro dele, as brasas guardadas que nunca apagavam, atearam com violência inesperada, como que inspiradas pelo que se passava à sua volta.
Ele soube que tinha chegado a hora, ele que é água que não apaga fogo, iria lutar até que a morte o encontrasse, mas de pé como as árvores.
Os incêndios que destroem florestas, são também fonte de renovação e de criação.


10 de janeiro de 2009

Desafios





A TMARA, desafiou-me, e achei graça descobrir oito, logo oito sonhos ou desejos.
Regras: são sempre as mesmas


a) Escrever uma lista com 8 coisas com as quais sonhe;
b) Convidar 8 bloguistas a responder ao mesmo;
c) Comentar no blog de quem partiu o desafio;
d) Comentar no blog de quem desafiamos;
e) Mencionar as regras

- Sonho, conhecer-me
- Sonho, conhecê-Lo em mim
- Sonho, saber o que vim cá fazer
- Sonho, não me enganar no trajecto
- Sonho, não desistir
- Sonho, viver em Harmonia
- Sonho, ser AMOR, PAZ e LUZ
- Sonho, que tudo o mais vem por acréscimo

Deveria passar a oito bloggers, mas como todos sabem se há alguma coisa que não gosto é pôr links, por isso meus lindos, sintam-se desafiados.

9 de janeiro de 2009

TERRA NOVA





EnHigma





Estava atracado, esperando o tempo de poder largar, em calma total.
Águas límpidas que o refletiam, junto ao canavial, esperava…
Passaram vários verões e vários invernos, julgando que dali já não saía, só refletindo-se sobre as águas límpidas, sem o tempo lhe fazer moça, sempre parecendo novo, acabado de pintar.
Mas um dia, sem saber como, alguém se lembrou que existia e lhe insuflou a chama de poder ir mais longe.
Era chegado o tempo da ‘Terra Nova’, nem conhecia ainda o seu novo dono.
Vê chegar uma rapariga com ar prazenteiro, mochila nas costas e remos numa mão, botas de borracha na outra, calças arregaçadas até ao joelho, velho camisolão vestido.
Não, não podia ser, ele nas mãos duma rapariga tão nova, ele que já passara pelas mãos de mestres navegadores, que com uma braçada dada nos remos faziam com que avançasse com rapidez deslizando naquelas águas cristalinas.
‘Terra Nova’ meu lindo barquinho, murmura ela enquanto a sua mão desliza pela madeira, quase acarinhando-a.
Comove-se, nunca ninguém lhe tinha assim tocado
mas ela continuava murmurando o tempo que o tinha andado a namorar sem dinheiro para o comprar, até que finalmente lá o conseguira amealhar.
Atira com a mochila, as botas e os remos para dentro dele, entra e senta-se e ao retirar o camisolão mostra a camisa branca de manga curta aberta até junto do peito.
Encavilha os remos e dá a primeira remada, gemendo baixinho com o esforço, é sempre a primeira que mais custa, quebrar a inércia e pôr em movimento, não há de ser nada, diz para os seus botões e para o barco, estou só um bocadinho destreinada, lá vai a segunda remada e ri já por não ter custado tanto.
Já canta rio abaixo. Volta com esforço, sentindo todos os músculos que começam a barafustar.
Atraca a chata, faz uma festa no seu costado…Ai ‘Terra Nova’ havemos de fazer jus ao teu nome.
Mal pode de cansaço quando chegada a casa percebe que ainda deveria jantar. Deita-se em vez de comer, e ainda a cabeça não está pousada na almofada e já sonha com o percurso do dia seguinte que há de ser mais longo.
Quando acorda, nem acredita nas dores que tem em todo o corpo que é desculpa para o outro lado se virar e aprontar-se para mais umas horas de sono. Mas, lá está, há quem a ponha a pensar se vai ficar parada ou se quer avançar.
Levanta-se de um salto, esquece dores, apronta-se para ir ter com o barco e o rio.
Começa a Terra Nova.


7 de janeiro de 2009

O RIO E O MAR





Foto de EnHigma





Esforçou-se para conseguir chegar à superfície, mas nunca mais conseguia romper a terra. Sabendo que era fraco resolveu juntar forças durante anos e ia roçando o ponto por onde queria sair, sabendo que conseguiria forçar a saída.
Um dia jorrou em absoluta beleza por entre rochedos que rachou, escorrendo em grande abundância. Quem o via na nascente julgava que iria ser um rio forte e pujante de margens largas, visto que era já assim o seu primeiro trajecto.
Galgando rochas e rochedos, sempre a descer, aspergindo gotas onde o sol compunha arco-íris, brincava com tudo, convencido da sua força.
Chegado à planície, espraiou-se preguiçoso deixando-se arrastar por entre a s margens que cavou, pensando que era tempo de descansar. As árvores espelhavam-se nas suas claras águas e espreguiçava-se mais um pouco ao ver o reflexo delas, deslumbrado com a sua própria beleza, não reparando que essa beleza partia de reflexos permitidos pela luz, esquecido que tinha um caminho a percorrer, sonhando que era fácil chegar ao seu destino, a vastidão do mar.
Esse verão foi de calor insuportável, não caindo nem um pingo de chuva, ele emagrecendo a olhos vistos, havendo já pedaços que nem água tinham. Garantiu a si próprio que logo que pudesse pôr-se a caminho iria apertar as margens, o orgulho de ser tão vasto não lhe tinha sido salutar.
Chegado o Outono, apanhadas as primeiras chuvas, voltou a correr escolhendo caminhos mais difíceis, pedregosos e sinuosos, ganhando velocidade, onde às vezes um simples tronco o tentava abrandar, mas a força das suas águas conseguia-o desviar, continuando sempre sem parar.
Demorou muito tempo até avistar a praia onde por fim ia desaguar. Parou um pouco a admirar aquele imenso mar, aquela vastidão que não acabava mais e da qual ia fazer parte.
Ali tão perto e as dificuldades que não acabavam: era a areia que afundava, uma duna que aparecia e ele lá continuava a fazer mais uma curva ali, afundando acolá, apertando-se ainda mais entre as margens, cansado, desfeitas as suas águas, quase desistindo às vezes.
Era já quase noite, as nuvens invadindo o céu por onde se escoava ainda os últimos raios solares, quando na última curva, que obrigado foi a fazer para se desviar do esgoto que também na praia desaguava, avistar os poucos metros que faltavam para na sua casa chegar.
O mar ao vê-lo, alargou-se mais ainda, até ao infinito, para de braços bem abertos o poder acarinhar, quando acabasse por chegar.


5 de janeiro de 2009

NATAL





EnHigma






No dia 13 de Dezembro morreu.
Ninguém pensou no Natal que estava a chegar, só ela. Olhava para a avó, olhos secos e pensava no Natal que estava a chegar. Perguntou-se de seguida, olhando todos que choravam, se seria tão insensível como diziam. Adorava aquela avó, mas não conseguia chorar, só se lembrando do Natal que estava a chegar....
Ouviu vagamente a conversa de Alice, um autêntico SOFISMA, que a todos impressionava pela ‘devoção’ demonstrada, revirando os olhos mostrando a ALVA, apontando o dedo para ela, para que todos vissem que não chorava. Pensou lá com ela que durante a doença da avó, seis longos, dolorosos meses, que a teria ido visitar umas duas vezes. Puxou pela cabeça para visualizar a segunda vez. Não, DECIDIDAMENTE tinha sido só uma.
E o Natal que estava a chegar....
Indiferente a todos, ia passando pelos diversos grupos, ouvindo aqui uma coisa, além outra, acolá um outro que se vangloriava da estima que a avó lhe tinha, PARALOGISMO perfeito.
Conhecia-os tão bem, sabia tão bem quem tinha gostado da avó!
Estava a chegar o Natal....
Estavam ali tantos, ela no meio dos outros, sentindo-se como se não fizesse parte daquele clã. A avó fora a única, com a sua BONDADE, com o seu amor, que sempre a fizera sentir pertença de algo, tinha sido o seu PATRONO.
E o Natal que estava a chegar....
A 17, juntaram-se todos, uma outra vez, por se ter encontrado um bilhete, dentro do seu cofre, que nomeava quem queria que estivesse presente, para DESVENDAR a CARTA que lhes deixara.
A carta, qual ORÁCULO ILUMINADO, deixava o pedido de se juntarem todos os Natais, inclusivamente o próximo, dali a oito dias, como se ela estivesse presente. A avó era a única que conseguia todos congregar à sua volta, Natais de festa, de amor, de ternura feitos.
Finalmente alguém se lembrava do Natal que estava a chegar......quem já cá não estava
Além daquela carta, havia uma outra lacrada, em nome dela.
A inveja, por a avó gostar tanto dela, entre alguns membros da família, sempre a tinha notado, mas quando recebeu a única carta individual, que nem deixara a nenhum dos filhos, o ambiente turvou-se.
Um dos tios, o preferido da mãe, que também gostava dela, chegou-se perto e murmurou-lhe baixinho, para nunca se esquecer daquele gesto da avó que tanto a amara, que recordasse, para ser digna dela, que não ligasse às invejas que se sentiam, que depressa passariam.
A preciosa carta foi aberta, lida, guardada e finalmente com as represas rebentadas, as lágrimas escoavam rosto abaixo. Nela a avó falava de um REENCONTRO que se haveria de dar entre as duas, da MUDANÇA que a sua morte ia provocar na sua vida, da coragem que teria de ter para a enfrentar, da pena que tinha de não estar viva para poder presenciar o bem que se sairia, da sua fé nela
Nesse Natal todos se juntaram, mas o Natal que estava quase a chegar....não chegou.
O pedido da avó não se concretizou
Aquele foi o último Natal da família



2 de janeiro de 2009

EU, NO BLOG DOS OUTROS






O NUNO convidou-me para escrever para uma fotografia sua, o que me deixou feliz.

Mas esta fotografia...esta fotografia é um espanto! mexeu comigo.
Vão até lá vê-la e aproveitem e leiam o resto do texto e assim como assim aproveitem também e deixem lá o vosso comentário, se for caso disso.....


Mal te vi fiquei com os olhos pregados em ti, pairei e de repente deu-me uma vontade louca de poder mergulhar nessa lagoa e poder ir pousar a cabeça junto de ti, para descansar desta vida desconchavada
Boiar ao teu lado envolvida pelas tuas folhas, brincar, enrodilhar-me nelas e, ouvir-te contar murmurando baixinho, os segredos que tens guardados..........................................................