No dia 13 de Dezembro morreu.
Ninguém pensou no Natal que estava a chegar, só ela. Olhava para a avó, olhos secos e pensava no Natal que estava a chegar. Perguntou-se de seguida, olhando todos que choravam, se seria tão insensível como diziam. Adorava aquela avó, mas não conseguia chorar, só se lembrando do Natal que estava a chegar....
Ouviu vagamente a conversa de Alice, um autêntico SOFISMA, que a todos impressionava pela ‘devoção’ demonstrada, revirando os olhos mostrando a ALVA, apontando o dedo para ela, para que todos vissem que não chorava. Pensou lá com ela que durante a doença da avó, seis longos, dolorosos meses, que a teria ido visitar umas duas vezes. Puxou pela cabeça para visualizar a segunda vez. Não, DECIDIDAMENTE tinha sido só uma.
E o Natal que estava a chegar....
Indiferente a todos, ia passando pelos diversos grupos, ouvindo aqui uma coisa, além outra, acolá um outro que se vangloriava da estima que a avó lhe tinha, PARALOGISMO perfeito.
Conhecia-os tão bem, sabia tão bem quem tinha gostado da avó!
Estava a chegar o Natal....
Estavam ali tantos, ela no meio dos outros, sentindo-se como se não fizesse parte daquele clã. A avó fora a única, com a sua BONDADE, com o seu amor, que sempre a fizera sentir pertença de algo, tinha sido o seu PATRONO.
E o Natal que estava a chegar....
A 17, juntaram-se todos, uma outra vez, por se ter encontrado um bilhete, dentro do seu cofre, que nomeava quem queria que estivesse presente, para DESVENDAR a CARTA que lhes deixara.
A carta, qual ORÁCULO ILUMINADO, deixava o pedido de se juntarem todos os Natais, inclusivamente o próximo, dali a oito dias, como se ela estivesse presente. A avó era a única que conseguia todos congregar à sua volta, Natais de festa, de amor, de ternura feitos.
Finalmente alguém se lembrava do Natal que estava a chegar......quem já cá não estava
Além daquela carta, havia uma outra lacrada, em nome dela.
A inveja, por a avó gostar tanto dela, entre alguns membros da família, sempre a tinha notado, mas quando recebeu a única carta individual, que nem deixara a nenhum dos filhos, o ambiente turvou-se.
Um dos tios, o preferido da mãe, que também gostava dela, chegou-se perto e murmurou-lhe baixinho, para nunca se esquecer daquele gesto da avó que tanto a amara, que recordasse, para ser digna dela, que não ligasse às invejas que se sentiam, que depressa passariam.
A preciosa carta foi aberta, lida, guardada e finalmente com as represas rebentadas, as lágrimas escoavam rosto abaixo. Nela a avó falava de um REENCONTRO que se haveria de dar entre as duas, da MUDANÇA que a sua morte ia provocar na sua vida, da coragem que teria de ter para a enfrentar, da pena que tinha de não estar viva para poder presenciar o bem que se sairia, da sua fé nela
Nesse Natal todos se juntaram, mas o Natal que estava quase a chegar....não chegou.
O pedido da avó não se concretizou
Aquele foi o último Natal da família
23 comentários:
Há Natais assim...
Conheço-os!...noutras mortes!
Sempre...
Mariz
Como te vou conhecendo...
segura a minha mão
Aguenta-te firme na escalada.
Beijo meu
Mariz
São situações inesperadas que a vida as vezes deixa como ensinamento...Acho que as pessoas mais maduras com certeza já passaram por algo semelhante...boa seana para você Clara e para a sua família...bonita a música...
Bom Dia, Mariz
Faço tenções disso.
Obrigado pela ajuda
Sempre beijo meu
M
Olá Elcio
São fatos do quotidiano que muitas pessoas aguentam
beijinho
Há elos que mantêm todos unidos mas quando partem essa união desvanece-se. É mais comum do que se julga.
Triste, muito triste.
Beijos
Era uma família ... como se diz modernamente ...
Bem não interessa...
Quem morre é substituído pelo que se segue ... é a lei da vida, ou da morte, que inexoravelmente fazem, (E AINDA BEM!!!), uma colheita.
Uns morrem no Verão, na Primavera ... no Inverno.
No Natal ou na Páscoa!
Morre-se ... é a Lei da Vida, ou da Morte, que ninguém estudou.
Mas todos sabemos que há um limite e o infinito, para já parece inatingível!
História triste,sem dúvida,e que acontece tantas vezes.
Triste ...mas entre avó e neta existiam laços de ternura que ela não vai esquecer.À medida que o tempo for passando,sorrirá ao pensar na avó que tanto lhe queria.
Beijo amigo.
Senti uma enorme tristeza ao ler este texto, não que tenha passado por uma experiência semelhante mas porque a descreveste com tanta emoção que me senti parte integrante da história.
E senti-me triste por uma família que perdeu o seu fio condutor.
Bjs e tem uma excelente semana!
Um beijo terno, Amiga.
Perdoa não conseguir dizer mais nada...
Olá Fatyly
Acontece muito, acontece.
tens razão.
beijinho
Olá Xistosa
É verdade. Quem nasce morre.
Acho que já o sabemos, antes de nascer.
Deve vir no ADN
beijinho
Olá Maripa
Quando se estabelecem laços de amor, de amor desinteressado, nunca são esquecidos, penso eu.
Ficam gravados para sempre.
beijinho
Olá Helena
As mulheres costumam ter uma força enorme, são elas que normalmente unem as famílias, principalmente no tempo das nossas avós.
beijinho
Olá Cris
Um beijo terno, é um mundo, minha querida
obrigado
beijinho
É lindo o texto... E passa bem proximo a todos nós que o lemos ...
* Querida estarei enviando Reiki e orando para a situação da mocinha e seus familiares.
Um 2009 luminoso para voce e os seus familiares. Grande beijo
há natais em que apenas o dia se concretiza...perdem o espírito que caracteriza esta época
beijos e um bom ano
Trsite e comovente a tua história minha boa amiga... o Natal para mim deixou também de ter o mesmo significado de outros tempos, pois perdi o meu pai faz 15 anos no dia 17 Dezembro e uma prima minha que era como uma irmã pois foi criada connosco mtos anos, faleceu faz cerca de 7 anos num acidente de viação tinha 23 anitos e deixou 2 filhotas lindas, uma deles ficou sem um pedaço do cérebro e hoje é uma menina cheio de problemas, no ano anterior o pai delas tinha sido atropelado e é um ser qse que vegetal dependendo de outros para sobreviver numa cadeira de rodas e qse q nem conhece as filhas... por isso amiga o natal para mim só me liga por ser algo que nos une e ser uma época bonita mas pouco mais q isso.
Bjocas enormes amiga,
Nuno de Sousa
Mais uma das tuas belas e tristes histórias... adorei e lembrei-me dos meus que há pouco partiram... faz-nos sempre bem recordar.
Beijinho muito grande e um Bom Ano Novo
Viva Desnuda
minha querida, obrigado pelo Reiki.
Que o teu Ano Novo te corresponda em generosidade e LUZ aquilo que dás.
beijinho
Viva Carla
Um Feliz Ano Novo, Amiga
beijinho
Olá Nuninho querido
Que história dramática.
Tenho muita pena, Nuno, muita mesmo.
beijinho do tamanho do Mundo e que te envolva bem em Amor
Olá Nanny
Minha querida!
De vez enqyando lá aparecem as histórias tristes.
sorriso
mas eu não estou.
beijinho
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