Esforçou-se para conseguir chegar à superfície, mas nunca mais conseguia romper a terra. Sabendo que era fraco resolveu juntar forças durante anos e ia roçando o ponto por onde queria sair, sabendo que conseguiria forçar a saída.
Um dia jorrou em absoluta beleza por entre rochedos que rachou, escorrendo em grande abundância. Quem o via na nascente julgava que iria ser um rio forte e pujante de margens largas, visto que era já assim o seu primeiro trajecto.
Galgando rochas e rochedos, sempre a descer, aspergindo gotas onde o sol compunha arco-íris, brincava com tudo, convencido da sua força.
Chegado à planície, espraiou-se preguiçoso deixando-se arrastar por entre a s margens que cavou, pensando que era tempo de descansar. As árvores espelhavam-se nas suas claras águas e espreguiçava-se mais um pouco ao ver o reflexo delas, deslumbrado com a sua própria beleza, não reparando que essa beleza partia de reflexos permitidos pela luz, esquecido que tinha um caminho a percorrer, sonhando que era fácil chegar ao seu destino, a vastidão do mar.
Esse verão foi de calor insuportável, não caindo nem um pingo de chuva, ele emagrecendo a olhos vistos, havendo já pedaços que nem água tinham. Garantiu a si próprio que logo que pudesse pôr-se a caminho iria apertar as margens, o orgulho de ser tão vasto não lhe tinha sido salutar.
Chegado o Outono, apanhadas as primeiras chuvas, voltou a correr escolhendo caminhos mais difíceis, pedregosos e sinuosos, ganhando velocidade, onde às vezes um simples tronco o tentava abrandar, mas a força das suas águas conseguia-o desviar, continuando sempre sem parar.
Demorou muito tempo até avistar a praia onde por fim ia desaguar. Parou um pouco a admirar aquele imenso mar, aquela vastidão que não acabava mais e da qual ia fazer parte.
Ali tão perto e as dificuldades que não acabavam: era a areia que afundava, uma duna que aparecia e ele lá continuava a fazer mais uma curva ali, afundando acolá, apertando-se ainda mais entre as margens, cansado, desfeitas as suas águas, quase desistindo às vezes.
Era já quase noite, as nuvens invadindo o céu por onde se escoava ainda os últimos raios solares, quando na última curva, que obrigado foi a fazer para se desviar do esgoto que também na praia desaguava, avistar os poucos metros que faltavam para na sua casa chegar.
O mar ao vê-lo, alargou-se mais ainda, até ao infinito, para de braços bem abertos o poder acarinhar, quando acabasse por chegar.
15 comentários:
E esse mar, aqui tão perto, tão imenso e belo que nem me dá conta de quantos rios se fundem nele.
Como sempre um belo texto....com um friozinho das brumas que chegam desse infinito azul que se confunde por vezes com o céu...
Abraço meu
Sempre...
MAriz
p.s. - Não...não vamos amanhã..aguardamos melhores dias.
Grata por tudo!
Mais um texto maravilhoso, como tão bem sabes escrever amiga... adoro aqui estar e ler o q escreves.
Bjocas e um bom dia para ti,
Nuno
Olha... só se oferece cantar-te, feito um Miguel ângelo de trazer-por-casa... Sou como um rio que vive só para ti, correndo só para te ver...
;))
http://www.youtube.com/watch?v=RnIT0uYtKn8
Um texto magnífico e é essa luta que todo o ser humano deverá ter enquanto ser vivo: lutar, esgravatar, acreditar em algo que o ajude psicologicamente e nunca desistir em busca de novos horizontes ou limpar o que os tolda.
Goste muito e a foto é amaravilhosa!
Beijos
Apetecia-me tirar os sapatos e correr por esse areal fora.
Deve ser um lugar magnífico.
E é neste esforço constante, nesta luta diária, neste ultrapassar de barreiras, nesta batalha contra a adversidade que se conquista o infinito no finito dos nossos dias.
Tão belas as palavras que encontro sempre, mas sempre, aqui.
E o nó na garganta explica o que sinto.
Deixo aqui e sempre, um sentimento maior.
Olá Mariz
são Todos, Mariz
Todos vão dar ao mar
beijinho, sempre
Olá Nuninho
Sorriso
Tu és um querido, que sempre me trata com imensa ternura.
Obrigado
Beijinho
Olá Bartolomeu
sorriso
Fui ver o video que não conhecia,
letra e música lindíssimas.
Obrigado pelo presente
beijinho
Olá Fatyly
Então? começamos o Ano com a vermo-nos ou não?
beijinho
Olá Valentim
Apetece, não apetece?
damos uma corrida?
beijinho
Olá Paulo
Podes crer:
- esforço constante
- luta diária
- batalha contra a adversidade
nada se consegue sem todas estas coisas....
preferíamos todos que assim não fosse, mas....
beijinho, grande de ternura.
sempre bem no teu estilo, com um toquezinho bucólico e a ideia sempre presente de luta, ás vezes não mais do que contra nós próprios mais as nossas imperfeições
joca
Talvez a sua poesia seja assim também, talvez ela nasça jorrando de dentro da alma, talvez ela venha como as águas, desafiando as pedras e invadindo as margens, talvez a sua palavra seja assim como o mar...que se alarga sem ter fronteiras...belo poem sobre imagem...um abraço na alma...
Claras Manhãs
O rio deveria ter aberto caminho durante a noite e sempre ao longo do ano, nem que fosse um fio de azeite.
Mas não ... tem que percorrer um caminho idealizado.
Bem estruturado, que a água que corre tem que o fazer com conta, peso e medida.
Há sempre um romance ao longo do seu caminho.
Sim, "seu", do rio e de quem o lhe fez o leito.
Tudo é programado e com regras.
Elas estão expressas e bem delimitadas entre dia, noite, sol, chuva, nuvens ou neve.
Toda uma vida bem assente ...
(para o rio. Esqueci-me deste pormenor e poderia ser confundido, com a autora da descrição.)
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