Carlos Afonso
Tinha ido á Chamusca espreitar o rio, tão largo naquele sítio, tão cheio naquele inverno, olhando admirada, fascinada, as marcas que ele lhe mostrava, dizendo com ares sabedores, que aquela cheia não era nada, que visse bem as marcas mais acima, que eram de anos anteriores, que isso sim tinham sido cheias que a terra tinham deixado prenha
Pegando-lhe na mão puxou-a para a levar a andar de barco, amarrado ao pequeno cais, que lhe ia mostrar a força daquele rio quando cheio, que nada tinha a ver com a acalmia de que ela tanto tinha gostado no ano anterior, quando lá fora no verão.
Ela com medo, deixou-se levar por tanto nele confiar, no seu amor de rapariga.
De barco a levou para o meio do rio, onde a força da corrente, tão grande como o seu amor, os levava, sem ser necessário remar, a uma velocidade impressionante, ela sem poder o rio admirar, atemorizada por aquela enchente que não sabia se de amor era ou da corrente.
Quando quiseram voltar, já depois de ele lhe ter confessado que também lhe queria, tanto como o rio lhe dizia, foi necessário toda a sua concentração, com ela ao lado, impulsionando os remos, cada um no seu, ele abrandando a sua força, para compensar a dela mais fraca, para conseguirem chegar ao pequeno cais que os aguardava, dando-lhes a segurança que a meio lhes tinha faltado, já os dois bem estafados, arfando sem bem saberem se era do amor que os consumia, se do esforço que tinham feito, os dois lado a lado, sorrindo satisfeitos por tão bem terem emparelhado.
Estava a recordar esses momentos, sem saber o que tinha acontecido a meio do caminho, agora tantas vezes de costas voltados, cada um remando o seu barco, sem conseguirem voltar àquele cais que tantas vezes os tinha aguardado, dando-lhes a segurança que às vezes lhes faltava, a corrente puxando com força por cada um
Ele remando para um lado, ela para outro, às vezes lado a lado, para logo de seguida percorrerem desfasados o seu caminho, mais doloroso feito sozinho, sem o outro se aperceber que cada vez era mais difícil encontrarem-se, nem que fosse na chegada conjunta ao cais.
Ainda tinham feito um esforço, lembrando-se de como se queriam, de como eram completos quando estavam juntos, se ele tinha sido o rio, ela tinha sido a enchente, se ele tinha sido o barco, ela tinha sido o remo, se ele tinha sido o penhasco, ela tinha sido o farol, mas a corrente era cada vez mais forte e como estavam em barcos separados, não conseguiam remar com idênticas forças, desviando-se cada vez mais um do outro
agora dentro de um mar desconhecido, sem penhasco, sem farol encontravam-se sem se reconhecerem, perdidos para o rio
perdidos para eles
perdidos
Tinha ido á Chamusca espreitar o rio, tão largo naquele sítio, tão cheio naquele inverno, olhando admirada, fascinada, as marcas que ele lhe mostrava, dizendo com ares sabedores, que aquela cheia não era nada, que visse bem as marcas mais acima, que eram de anos anteriores, que isso sim tinham sido cheias que a terra tinham deixado prenha
Pegando-lhe na mão puxou-a para a levar a andar de barco, amarrado ao pequeno cais, que lhe ia mostrar a força daquele rio quando cheio, que nada tinha a ver com a acalmia de que ela tanto tinha gostado no ano anterior, quando lá fora no verão.
Ela com medo, deixou-se levar por tanto nele confiar, no seu amor de rapariga.
De barco a levou para o meio do rio, onde a força da corrente, tão grande como o seu amor, os levava, sem ser necessário remar, a uma velocidade impressionante, ela sem poder o rio admirar, atemorizada por aquela enchente que não sabia se de amor era ou da corrente.
Quando quiseram voltar, já depois de ele lhe ter confessado que também lhe queria, tanto como o rio lhe dizia, foi necessário toda a sua concentração, com ela ao lado, impulsionando os remos, cada um no seu, ele abrandando a sua força, para compensar a dela mais fraca, para conseguirem chegar ao pequeno cais que os aguardava, dando-lhes a segurança que a meio lhes tinha faltado, já os dois bem estafados, arfando sem bem saberem se era do amor que os consumia, se do esforço que tinham feito, os dois lado a lado, sorrindo satisfeitos por tão bem terem emparelhado.
Estava a recordar esses momentos, sem saber o que tinha acontecido a meio do caminho, agora tantas vezes de costas voltados, cada um remando o seu barco, sem conseguirem voltar àquele cais que tantas vezes os tinha aguardado, dando-lhes a segurança que às vezes lhes faltava, a corrente puxando com força por cada um
Ele remando para um lado, ela para outro, às vezes lado a lado, para logo de seguida percorrerem desfasados o seu caminho, mais doloroso feito sozinho, sem o outro se aperceber que cada vez era mais difícil encontrarem-se, nem que fosse na chegada conjunta ao cais.
Ainda tinham feito um esforço, lembrando-se de como se queriam, de como eram completos quando estavam juntos, se ele tinha sido o rio, ela tinha sido a enchente, se ele tinha sido o barco, ela tinha sido o remo, se ele tinha sido o penhasco, ela tinha sido o farol, mas a corrente era cada vez mais forte e como estavam em barcos separados, não conseguiam remar com idênticas forças, desviando-se cada vez mais um do outro
agora dentro de um mar desconhecido, sem penhasco, sem farol encontravam-se sem se reconhecerem, perdidos para o rio
perdidos para eles
perdidos
16 comentários:
A vida é assim... feita de desafios vencidos... por vezes a visão tolda-se e... apesar de os penhascos e os farois continuarem inalteravelmente nos postos que lhes compete, é preciso que novas cheias aconteçam.
É sempre preciso morrer, para voltar a nascer.
;)
Marta
Ola!!!
Essa fotografia dessa ponte faz-me lembrar a minha juventude em terras do Ribatejo de onde era originario o meu Pai.
Beijinho grande
AnaMaria.
Bela foto, magnifico texto literário, grande inspiração...numa clara manhã de Outono, em que o sol teima em brilhar, apesar do cinzento do céu...
Apesar de tudo prefiro construir o meu mundo sobre conquistas...e esquecer tudo o que naufragou no mar da vida...
Bom fim de semana...mesmo que chova.
Ás vezes é bom andarmos perdidos miga :-)
Belo o teu texto como sempre bem escrito.
Bjs grandes um bom fds e até dia 16 q vou estar de férias,
Nuno
Não sei se será assim, Bartolomeu
Os penhascos e os farois no mesmo sítio?
Nunca os viste mexer? Às vezes vêm atrás de nós, os mafarricos!
sorriso divertido
Beijinho
Olá Ana Maria
Esta ponte é a ponte da Chamusca, mas lembra-se com certeza da ponte da Golgã
Há tanto tempo que lá não vou às festas!
Beijinho, sobre o Atlântico...
Olá José
Meu lindo, já deverias saber que nada se esquece, pode-se transformar, mas esquecer....
Mas este texto não tem nada a ver comigo, a não ser o facto de conhecer bem a Chamusca.
Mesmo que chova, um bom fim de semana para ti, também
beijinho
Olá Nuninho
Se soubesses o que ontem me lembrei de ti.
Se tivesses visto a expectacular fotografia que poderias ter tirado, ontem à noite, a uma Pena fantasmagórica....
Vou tentar descrever apesar de não ter havido fotografia.
Beijinho e boas FÉRIAS, para os dois.
... ai que porra.... que coisa triste este amor que se gasta e consome... eu sei que tudo muda, nada dura para sempre... mas sobre um grande amor não devia pesar mais do que boas recordações, quando ele se vai...foi bom... acabou mas existiu...
... não aceitei nunca ficar a odiar quem alguma vez amei... tem sido por vezes muito complicado mas por respeito para comigo mesma não poderia deixar de sublimar o que de pior houve e recusar ódios e sedes de vingança.
Esta tristeza que se instala, dói!
Oh Inês!
tu que me acompanhas há tanto tempo, sabes que escrevo melhor sobre a tristeza do que sobre a alegria
Não sei porquê
Sei que sou muitíssimo alegre e bem disposta, mas quando chego à escrita...talvez por o mundo não estar nada bem
Mas como disse ao José, este texto não tem nada a ver comigo a não ser o facto de conhecer bem a Chamusca e as cheias do Tejo, que sempre foram uma benção para os proprietários de terrenos agrícolas.
Não tenho nenhuma tristeza por um amor acabado há mais de 35 anos.
Beijinho e Bom fim de semana.
:)
triste mas belo
Ficam as penas sem amargura, a doce lembrança e talvez até a esperança de um reencontro se para tal forem predestinados.
Venho tarde mas já estava na altura de retribuir a visita.
Abraço
Olá M.
Bem-vinda
Aqui nunca ninguém chega tarde, M.
De todos os modos obrigado pela visita.
beijinho
Identifiquei-me nas tuas palavras e há anos que deixei ir o barco, os remos e toda a tralha desgastadora.
Sabes rapariga conseguiste comover-me e...obrigado embora recordar seja por vezes doloroso.
Um bom domingo e toma lá um abração
Olá Fatyly
Quanto menos peso se levar nas viagens melhor.
Beijinho
É a primeira vez que por aqui passo e adorei estes Perdidos!... Magnífico...
Olá Paula
Bem-Vinda!
Mas já fui à tua casinha e gostei muito da mobília, com disse o lb, também não mudaria nada.
beijinho
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