A vereda era estreita e pedregosa, mas era o único caminho que sabia existir para chegar aos campos onde ia ficar, mais as cem ovelhas e cordeiros, durante os três meses de verão. Tinha de se saber onde ficavam as boas pastagens, verdes, com água, suficientemente grandes para poderem comer todas as cem, durante três meses, sem andarem a focinhar o chão, o que as feriria, com redil e onde se pudesse também abrigar.
Comida para ele, bastava um naco de pão e algum queijo, que iria comprar na aldeia que ficava perto, quando as recolhesse.
Quisera partir mais cedo este ano, lembrando-se do calor por que tinham passado no ano anterior, lembrando-se do suplício que tinha sido chegar aos diversos locais para passarem a noite, as ovelhas cansadas quase recusando-se a andar.
Não, não tinha cão, não precisava. Sabia o nome de qualquer delas que vinham ao seu encontro mal as chamava, era necessário atenção, concentração, a ver se nenhuma se tresmalhava, mas era fácil achava ele, que gostava da sua profissão.
Eram chegados. Eis o campo.
Ali bem no alto, um planalto formava o local ideal para se recolherem, a meio caminho do horizonte começavam as serranias e descendo uma delas, encontravam uma lagoa que era alimentada todo o verão pela água que escorria das terras impregnadas, da chuva que tinham acolhido e onde as árvores, algumas ainda desfolhadas, se refletiam perfeitas na água. Às vezes até parecia que o mundo estava às avessas.
Ainda ali estava o redil, quebrado aqui e além, pela invernia rigorosa que por ali tinha passado.
Acordaram no princípio da madrugada, quando o azul passara a rosado, mas o sol ainda não tinha despontado. Ficou de pé, maravilhado como sempre, esperando para ver o sol nascer. Dentro de si nasceu um cântico de louvor, cujas notas só as ovelhas ouviram, parecendo extasiadas, só se mexendo quando a última nota se espalhou por todo o planalto.
Começara o dia.
Ele não se cansava de olhar o horizonte a perder de vista, sentado em cima de uma pedra, sentia que fazia parte da natureza e achava normal, nem poderia ser de outra maneira, teria de estar sempre sintonizado, se queria ser um bom pastor. Sabia quando vinha chuva, se vinha de dia ou de noite, então dormia enrodilhado no meio das ovelhas que o abrigavam da chuva.
Mas para ele, a sintonização perfeita dava-se naquelas noites mais claras, pontilhadas pela lua, em que ainda conseguia ver o Cosmos estrelado de milhões de luzes tremeluzentes, deitado no chão com a cabeça encostada à sua Estrela, a ovelha preferida, doçura viva, olhava a lua toda a noite e sentia que voava pousando os pés nela, para logo voar ainda um pouco mais longe, para junto das estrelas, onde pousava também
Ninguém lhe viesse dizer que não estava acordado, porque sentia e para se sentir tem de se estar bem desperto.
Os sonhos tinham sido realizados, o contacto tinha sido estabelecido, agora era a hora de pôr em prática tudo o que tinha aprendido.
Soube, quase no fim do verão, que tinha sido a última vez que ali estivera, as lágrimas caindo-lhe pelas saudades que já sentia, que sabia que iria sentir por todo o resto da sua vida.
Voltou a casa para entregar as ovelhas aos pais e partiu.
ucraniana CCLXX - Santos Silva, ¿por qué no te callas?
Há 15 minutos
35 comentários:
Quem me dera ser pastora...!
E ele desceu da montanha... desperto.
Enquanto não efectuarmos o 'contacto' precisamos das montanhas e dos rios e das fontes...
Linda história! Deu para reflectir...
Beijos para ti, Maria das Manhãs!
Olá Lucy
Desculpa ainda não ter ido ver as tuas fotos, mas não tive tempo.
vou lá de seguida.
Sorriso, foi bem percebido
beijinho, Lucy
Querida Amiga:
Este teu texto é de Sabedoria clássica. Não aquela Sabedoria dos livros de escola por onde todos passam...mas da Escola Iniciática.
Lembro-me daquela célebre frase de Roosevelt, que se encaixa nos que CAMINHAM desse outro jeito....
"É normalmente nos momentos mais difíceis que somos testados. Pois só quem desceu ao vale mais profundo,sabe o quão é magnífico subir á Montanha mais ALTA!" - É LÁ, que sempre se dão os "Contactos"! esses tais "imediatos"... mas de OUTRO GRAU!
E sim! Ouvem-se as Esferas... como a melodia na tua história.
Beijos meus________________com ovelhinhas e pastos______________
verde.jantes! - srsrsrs - gostaste
deste design...gráfico?
Não! Não vou por aí! Foi brincadeirinha.
Nunca sigo multidões!nunca sabem que caminho seguir...ou sequer a Verdade das coisas...
É por isso que tentam ser "diferentes"...sem nunca o serem!
Mariz
Pastorear não é deste mundo... é uma ligação com a "essência das coisas", imensa!
Viste um miudo de 6 anos há pouicos dias numa reportagem, tão determinado, a sonhar em ser pastor como o api... bem mais belo do que ser futubolista, como sonham metade dos miudos hoje me dia!
Bom fim de semana
Beijinho
Olá Mariz
Tal e qual, minha querida
Beijo grande, Sempre
Olá Inês
Vi esse programa sim, Inês.
Aliás, foi esse miudo que me fez escrever este texto.
Beijinho
Excelente texto mas apreciei de uma maneira especial a excelência da foto.
Bjinho
Eu cá contando minhas ovelhas...
545, 546, 547...
Querida
Voltei aqui, para saber se não te quererias juntar á corrente. A Luna - Multiolhares já aderiu. Penso que o próximo post é que é!
Escreve algo belo,copia as bandeiras e coloca a música junto...hum?
Beijinhos meus
Mariz
olá,
bonito texto.
Esta forma de pastoreio (transumância) quase desapareceu mas fica bem retratada no teu texto.
Beijinhos
Apenas plagio um título de Erico Verissímo
"O Tempo e o Vento".
Lindo.
Bj.
Um magnífico texto que me levou a várias interpretações.
De facto aos sermos pastores da vida todos, de uma forma ou de outra, poderá sentir o "clik" que nos faz "partir para outra e virar a vida de pernas para o ar".
Cada vez há menos pastores e também vi a reportagem que falam daquele miúdo que quer seguir as pegadas do pai e pelo seu olhar e convicção um dia será, já que o mal das sociedades modernas é a desvalorização de profissões (não era bem este termo) em prol de outras. O que não agrada a uns poderá ser muito gratificante para outros.
Gostei muito deste momento de leitura!
Beijocas e um bom domingo
Apeteceu-me ser pastor...
Até porque cumprido o Verão, partiu.
Para outra viagem de solidão...
Bjs
Li, reli... Belíssimo texto!
Beijinho
Olá,
Tudo bem consigo?
Texto formidável, gostei imenso.
Boa semana.
Um beijinho
já sabia que escrevias bem mas... hum... este tocou :)
beijinhos
O Tribunal Cível de Lisboa acaba de dar razão a Nuno da Câmara Pereira num conflito que o opunha a D. Duarte de Bragança, obrigando este último a desistir da denominação Real Ordem de São Miguel de Ala, uma ordem que criou em 2004. Isto porque Nuno da Câmara Pereira já tinha lançado, em 1981, a associação Ordem de São Miguel da Ala.
Nuno da Câmara Pereira começou por queixar-se ao Registo Nacional de Pessoas Colectivas (RNPC). No entanto, este considerou que não havia nada que pudesse levar a Real Ordem de São Miguel de Ala, de D. Duarte, a ser confundida com a associação Ordem de São Miguel da Ala, de Nuno da Câmara Pereira.
Agora, uma juíza entendeu o contrário. No processo cível, a Casa Real invocou que a expressão "Ordem de São Miguel da Ala foi abusivamente usurpada" por Nuno da Câmara Pereira. Isto porque"o uso das insígnias e denominações das Ordens Dinásticas são pertença da Casa Real portuguesa e do senhor D. Duarte".
Mas, nesta matéria, os argumentos não convenceram a juíza Isabel Sá do 4.º Juízo Cível: "No actual ordenamento jurídico-constitucional, que configura Portugal como uma República e consagra o princípio de separação entre Igreja e Estado, é indiferente saber se está em causa uma ordem dinástica", escreveu a magistrada "se o uso das insígnias é exclusivo do putativo herdeiro da casa real (a qual não é reconhecida no ordenameno jurídico da República, note-se), ou se a mesma foi erecta canonicamente".
Apesar dos argumentos históricos apresentados pela Casa Real, a juíza centrou o problema no plano "puramente jurídico". E neste aspecto, a "simples aposição do vocábulo 'real' antes da expressão já usada" pela Ordem de São Miguel da Ala "não é suficiente para que se alcance uma eficaz e objectiva diferenciação entre as duas associações".
Ler artigo completo no Diário de Notícias
Melhoras, luminosidade matutina.
Olá José
A fotografia é excelente, sim.
Quase todas as do EnHigma
beijinho
Olá Horácio
Precisas de tantas para adormecer?
Tens de as visualizar a saltar a cerca
Sorriso trocista
beijinho
Não vou aderir à corrente Mariz.
tenho muita pena, mas não é a minha maneira de fazer as coisas.
beijinho, Sempre
Olá Valentim
Penso que estás a generalizar demasiado.
Ainda existe!
beijinho
Olá Mateso
Erico veríssimo!!!
mas não li esse livro de que falas.
beijinho
Olá Fatyly
Sorriso
Virar a Vida, é uma boa imagem!
beijinhos
Olá Mateo
São sempre de solidão, as boas viagens, não são?
beijinho, Mateo
Olá Luis
è sempre um prazer 'ver-te'.
Obrigado
beijinho
Olá Claudia
Desculpa, tenho andado longe de ti, de vocês.
Boa-semana para todos
beijinho
Olá Escarlate.due
E a mim, têm-me tocado os teus textos....
Beijinho
que bonito. tanta verdade.
beijo doce, beijo terno.
Obrigado Horácio.
Já estou melhor.
beijinho
Meu querido Sam
Um beijo tão doce quanto os teus
Por isso se queixa a igreja, de falta de padres.
Sem se saber bem por que razão e os porquês, abandonam assim um "rebanho" de cem ovelhas e cordeiros.
Também é uma verdade que as ovelhas estão a ficar mais negras e os cordeiros, já não serão o que o nome indica, mas um pouco mais empertigados.
Mas é uma boa profissão, mesmo que agora tenham que declarar alguns rendimentos.
Por isso a malta jovem, sonha ser pastor ...
Bons carros, casa roupa e comida.
Se tiver talento arranja sempre ovelhas "maneirinhas" ... e depois há a crise.
Não a económica.
Um pastor não tem "dessas necessidades".
A crise que leva à falta de ovelhas e cordeiros e que origina se estraguem os ingredientes, farinha e água.
Também o vinho de missa, não sendo consumido, azeda.
No final do ano, no ter-e-haver rendimentos ... só há prejuízos.
Nem sei se dão reembolso no IRS.
Depois da bucólica, ou melhor, pastoril vida ... parte-se.
Uns chorando o paraíso perdido, outros o rebanho tresmalhado.
Pelo que li, andou adoentada.
Espero que doenças da época ... daquelas ligeiras que nos atiram para a cama sem forças.
A minha "doença" é no computador.
Fiei-me na máquina e fiquei sem nada.
Já é a 3ª vez ...
Não tenho emenda e ainda nem sei o que vou fazer .
Vou andar por aí...
As melhoras e até já.
ccigchamber elsevier maintained helping hospitales suisse paving training catering endemic revise
lolikneri havaqatsu
Enviar um comentário