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16 de fevereiro de 2009

AINDA HÁ AMOR NO AR





Foto de BARTOLOMEU



Estão lado a lado em pleno rio Sado, tão calmo, onde se balançam e se reflectem. Ela vê-lhe o sorriso largo e espera que as águas amigas os balancem, agora que a maré sobe, sabe que vão ficar encostados uma parte do dia. Hoje que é domingo, não os vão desatracar.
Hoje estão aqui, mas amanhã poderão estar acostados no cais palafítico da Carrasqueira, único na Europa, ou na faina do mar, onde tanto podem transportar amêijoas, como polvos ou simplesmente minhocas para isco, que os espanhóis vêm comprar a 25€ o quilo.
Estão satisfeitos por estarem juntos, o que acontece, normalmente ao fim de semana e quantas noites na Carrasqueira, sobre o lodo quando o rio desce com a maré.
Há amor no ar, que ainda restou da véspera, quando namorados festejavam o dia de São Valentim, do Amor Incondicional, que veio para ficar.
Não, não trocaram presentes, nem se beijaram, ficaram só encostados um no outro, enquanto eram observados por quantos por ali passavam, sem perceberem que eles também estavam em festa, com a diferença que se festejavam todos os dias do ano.
Ainda há amor no ar, na festa de se encontrarem
No aproveitar é que está o ganho, eles bem sabiam que não durariam para sempre, que a vida do mar e do rio, bem lhes estragava a pintura, enquanto o sal lhes corroía as entranhas. Ninguém se apercebia, que ainda há pouco tempo a angústia fora grande. Ouviam as conversas dos donos a fazerem contas à vida, sem saberem se lhes valia a pena o dinheiro que lhes custaria o concerto ou se mais valeria ‘afogarem-nos’ e comprar outros novos. O que lhes valera tinham sido as memórias que com eles traziam e assim foram mandados para o estaleiro.
Parecia que tinham relembrado ao mesmo tempo as dificuldades por que tinham passado, quando balançados pela água amiga se encostaram, olhando ternamente o reflexo um do outro, em pleno rio Sado, tão calmo. Sabiam que talvez não sobrevivessem quando chegasse a hora de um novo concerto, que a mão-de-obra é uma carestia, e os pescadores têm pouco mais do que para o dia-a-dia.
Ainda há festa no encontro
Ainda há amor no ar



20 comentários:

Elcio Tuiribepi disse...

Que bom...deixa eu ver...música...e um aroma...você tem razão...rs...ótima semana para você, com muito amor...um abraço na alma.

Bartolomeu disse...

Minha amiga Minucha, tal como um bom muçulmano quando ajoelha e ora, voltado para Meca, assim eu me encontro de joelhos, admirando e prestando vassalagem a este texto magnífico.
«Ouviam as conversas dos donos a fazerem contas à vida, sem saberem se lhes valia a pena o dinheiro que lhes custaria o concerto ou se mais valeria ‘afogarem-nos’ e comprar outros novos. O que lhes valera tinham sido as memórias que com eles traziam e assim foram mandados para o estaleiro.»
Não sei se aqueles exemplares pertencem aos donos, se alguem os adquiriu para uso turístico, mas, seja como for, a possível conversa que transcreves encontra-se recheada de uma nostalgia verdadeira. Os donos não abatem os barcos, apesar de não lhes proporcionarem lucros, porque representam extensões de si mesmo, são até como membros da sua família.
;)
Agradeço-te o formoso texto.

inespimentel disse...

Minuxa... que delícia... tb eu vi a foto, mas agora que li o teu texto, tenho uma legenda muito mais bonita, e inspirada...

isabel mendes ferreira disse...

terna terno terna o dia a música o texto e a foto.




.


encanto. puro.



obrigada.

Fatyly disse...

Fizeste um texto magnífico para uma foto igualmente magnífica. Dois em um.

PARABÉNS!

Beijos

claras manhãs disse...

Olá Elcio


Sorriso para ti
Cheira sim, há, também, aroma no ar.

Beijinho

claras manhãs disse...

Olá Bartolomeu

Emocionaste-me.
Obrigado po o teres dito
sorriso comovido

Beijinho

claras manhãs disse...

Olá Inês

Que bom! andamos tantas vezes, tu e eu de braço dado.

beijinho

claras manhãs disse...

Olá Isabel

Depois do Bartolomeu me ter emocionado, agora, consigo, fiquei com os olhos rasos de água.
Obrigago, Isabel

beijinho

claras manhãs disse...

Oh Fatyly!
Obrigado, querida

beijinho

Toze disse...

Uma bela banda sonora a acompanhar o expressivo texto dos enamorados do Sado! Gostei

Beijo

Anónima, a tua Obra entra às 00:01

Uma vez mais, Obrigado
;)

Teresa disse...

...e este "ficaram só encostados um no outro" significa tanto! vale por 1000 acções ;)

beijo grande e boa semana.

(como vão as aulas de reiki?

claras manhãs disse...

Olá Tozé


Esta anónima agradece-te!
risos
Ando preguiçosa, por isso só faço posts 3 vezes por semana.
Só o colocarei aqui na quarta.

beijinho

claras manhãs disse...

Olá Teresinha

Não era preciso mais nada, pois não?

Fiz a iniciação ao segundo nível e agora é trabalhar, trabalhar, para conseguir ainda este ano fazer o próximo nível.
A ver vamos.

beijinho

Valentim Coelho disse...

Bonito texto! E eles são apenas dois barcos encostados um ao outro....
beijo

Unknown disse...

Tanta ternura e fantasia neste conto. Adorei!

Só tu, com a tua grande imaginação, criarias uma história de amor a partir de uma foto de 2 barcos! É caso para dizer que o amor também anda nas águas ;-)

Bjinhos e tem uma excelente semana.

claras manhãs disse...

Olá Valentim

Apenas dois barcos, tal e qual.
sorriso
obrigado

beijinho

claras manhãs disse...

Olá Helena

sorriso
Lindinha, tu és Paixão, eu sou Amor
Não me despego dele.

beijinho

xistosa, josé torres disse...

Houve há poucos dias um leilão na Net, de canetas.
Não sei de que marcas, pois as muitas que possuo, falam português e não se escrevem, ou não têm nomes idênticos aquelas ...
Mas alguma caneta escreveria um texto destes, por muito dinheiro que valha?
Quem quer boas canetas e com tinta legível possui-as e deixa-se pousar no papel e correr suavemente, para nem as águas mexerem e reflectirem esta maravilha ...

claras manhãs disse...

Oh Xistosa!
Obrigado!

Mas nem tu sabes o que gosto de ccanetas...
Só gostava de encontrar uma igual à que perdi quando tinha 22 anos e que era minha desde os oito.
preta e verde, feíssima, mas que tinha um aparo nº 3, como eu gostava, já feita à minha mão. Nem valia a pena pedirem-ma emprestada, porque ninguém conseguia escrever com ela.

beijinho