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1 de outubro de 2008

RADIOGRAFIA DE UM DIVÓRCIO



STIFFELIO - CENA DO DIVÓRCIO






Imagem tirada DAQUI



Há ventos tão fortes que parecem que tudo arrasam, que levam toda e qualquer emoção que tenhamos guardado no mais fundo de nós, que nos arrastam para lá do admissível, revolvem-nos, viram-nos do avesso, e quando se vão deixam a devastação, chão infértil e danado, terra queimada e salgada de lágrimas amargas, onde nunca mais uma semente germinará.
A raiva e o ódio são seus parceiros.
Eles chorando pelos cantos
A raiva escondida, sentimento destruidor, germina normalmente com força inusitada e quando se mostra, já é a cara do ódio que muitas vezes aparece, arrasa o pouco que o vento não levou, deixando nada, nada mesmo, onde se possa deitar uma mão em caso de aflição.
O chão danado, só mostra desilusão e demos que rondam riem e troçam, largando baba peçonhenta onde os pés se arrastam sem conseguirem sair do mesmo sítio. O esforço para se dar um passo, exorbitante
e fica-se ali dias meses ou anos, pensando que se está a avançar…
Eles deixando de chorar pelos cantos
um dia, sem se saber bem como vê-se uns reflexos de luz, ainda não sol, mas que com a continuação poderão vir-se a ser claridade
mas não se consegue ainda largar os demos, que sempre fazem uma algazarra própria, cansativa, mas que serve de companhia e assim se vai ficando, infértil raivoso, danado
Eles passando a ser o apoio dela
mas chega o dia, em que já não se pode esconder o sol, o chão ainda não germina, porque não se querem ver rostos, nem pessoas, apesar de sempre se ter ido trabalhar, sem se saber como, nem como se fez, ausente de si e dos outros.
O sol resolve trazer um amigo e sabe-se lá porquê, esse é visto, apesar de o interesse ser nenhum, o chão abriga a semente da esperança e essa germina sempre mesmo quando os demos não querem partir
Eles começando a rir
acontece por fim. Ela está refeita e assume a vida por inteiro. O chão, que tinha pensado que jamais germinaria, é campo de flores que principiam a rebentar
Eles chorando pelo colo que não tiveram,
sabendo que chegou a primavera

8 comentários:

inespimentel disse...

Curioso... sintonia... também hoje e antes de passar por aqui usei das palavras ódio e raiva, ele há coisas...
Ouvi uma vez, ao Júlio Machado Vaz, ser o divórcio a segunda maior causa de sofrimento, entre nós... pareceu-me, na altura, um exagero... hoje estou absolutamente de acordo!
"Enterrar" um companheiro e o sonho de vida que nos ligou a ele durante parte das nossas vidas é de facto difícil de digerir, pelo menos leva tempo.
Enterrei um com 25 anos e dois frutos, foi penoso e já não havia amor, acho que sentia aquela existência física como se fosse o meu lado masculino, uma coisa bem estranha, uma ausência que não era nem falta ... nem saudade... mas sobrevivi, e já lá vão 10 anos... estou pronta para "enterrar" outra relação!!!Estou a brincar... acho eu!

claras manhãs disse...

Olá Inês


Ando a assistir a um divórcio, em que o lado feminino sente exactamente esse ódio e essa raiva.
Vou ver se para a semana consigo descrever o lado masculino.
Mas a semente da esperança mais tarde ou mais cedo aparece


Beijinhos

Anónimo disse...

Quarta-feira, Outubro 01, 2008
Comments (2)

O Mito do Aristides – Adenda

Acaba de me chegar às mãos um exemplar de “Uma Autobiografia Disfarçada” do Embaixador Hall Themido. No meio de alguns capítulos de interesse, encontra-se um capítulo dedicado à mitificação da figura de Aristides de Sousa Mendes de que transcrevo algumas passagens, de forma a que se possa compreender o que se terá passado na elaboração de uma personalidade recentemente proclamada como figura ímpar da nossa história.
Fala o autor.

“Com alguma surpresa, a meio da minha estada em Washington, talvez em 1976, a Embaixada começou a receber pedidos de informação sobre Sousa Mendes (...) Compreendi que iniciava uma campanha para enaltecer a figura daquele colega e denegrir Salazar.”

“A essa meritória tarefa de salvar judeus ficaram associadas várias das nossas Missões Diplomáticas, devendo salientar-se, por estar documentada, a acção dos Embaixadores Carlos de Almeida Afonseca Sampaio Garrido e Alberto Carlos de Lis-Teixeira Branquinho, que no seu posto, na Hungria, concederam a judeus numerosos vistos , e até asilo e passaportes de conveniência, afrontando as autoridades locais, já subjugadas pelos alemães.(...) Essa actividade era exercida de forma muito discreta , ao ponto de os nomes dos beneficiados dos vistos não serem sequer comunicados ao Ministério pelos canais habituais, para evitar que chegassem ao conhecimento dos alemães”

“De forma totalmente irrealista fala-se em trinta mil [vistos], concedidos em apenas alguns poucos dias, pelo cônsul e seus familiares, de forma cega, no Consulado e até nos cafés da vizinhança.”

“Este assunto, ressuscitado decorridos mais de trinta anos, apimentado com a “invenção” de que se tratou de um gesto de oposição ao regime, tornou-se bandeira ao serviço de todos os que criticam o Estado Novo.”

“É difícil emitir opinião sobre o que levou um funcionário com uma carreira apagada a desrespeitar instruções. Ignorando relatos britânicos que mencionavam alguns desses vistos terem sido pagos, e pondo de lado um ataque súbito de demência, fica como única hipótese credível estarmos perante alguém que compreendeu (...) que tinha de assumir as responsabilidades de salvar refugiados em perigo de vida.”

“Neste quadro, o Ministério dos Negócios Estrangeiros, a sua hierarquia de funcionários (...), bem como as leis e os regulamentos que regiam esse departamento são ignorados. Como se não existissem. O odioso recai só sobre Salazar. É esse o mito criado por judeus e pelas forças democráticas saídas do 25 de Abril.”

“Ocorre-me perguntar o que aconteceria hoje se, hipoteticamente, o cônsul de Portugal num país africano, flagelado por doenças altamente contagiosas ou a guerra, decidisse conceder vistos para Portugal por razões humanitárias e sem a necessária autorização.”

“O processo disciplinar que lhe foi movido quando era cônsul em Bordéus foi o último de vários de que foi alvo ao longo da carreira, quase sempre por abandono do posto ou concussão. Pelos vistos, Aristides de Sousa Mendes, além de viver acima dos seus meios, o que tinha reflexos nas contas consulares, gostava de abandonar os postos, sem autorização, para visitar Paris, segundo se dizia movido por razões sentimentais. Como tem acontecido em outros casos mediáticos, a maioria desses processos disciplinares desapareceu misteriosamente do Arquivo Geral...”

“E não pode deixar de surpreender a falta de empenho dos sectores interessados nesses assuntos em louvar também os Embaixadores de Portugal que, nos seus postos e cumprindo instruções, concederam vistos à grande maioria dos cerca de oitenta mil refugiados que entraram no nosso país durante o conflito.”

João Hall Themido “Uma Autobiografia Disfarçada”, Instituto Diplomático, Lisboa 2008. [pp.169-173]
Etiquetas: Salazar


posted by O Corcunda at 03:01

Fatyly disse...

Não sei mesmo que te dizer porque este texto leva-me a tantas e das mais diversas situações, mas vou por este: num divórcio acontece tudo isso, quer para o homem, quer para a mulher, quer para os filhos se existirem, quer para os pais que assistem e têm que dar abrigo aos filhos, apenas com uma diferença:
- o lado feminino é mais expressivo, gritante, guerreiro, enraivecido, chantagista/materialista e sentido num estouro total que acalma com a passagem dos dias
- o lado masculino é mais contido, calado, numa reserva total, igualmente sentido, mas que explode com a passagem dos dias
- os filhos páram, escutam e olham, interiorizam e apreciam o comportamento tal como se de um Zoo se tratasse. Raramente tomam opções e com o passar dos dias e sem que os pais se apercebam por andarem tão entretidos em guerras estúpidas, escrevem o que sentem na alma com letras de fogo e guardam no armário do silêncio e só muito mais tarde é que ambos irão ouvir o que nunca lhes passou pela cabeça e aí os pais aprenderão que afinal os filhos jamais em tempo algum deveriam ser usados como "moeda de troca".
- para os pais do casal abrigam e ajudam como podem, mas por vezes tomando partido errado em defesa da sua cria, cria já grandinha mas que quer colo, jamais negado mas no entanto deveria ser sempre acompanhado de palavras que numa rotura ambos tiveram culpas e razões.

O meu já lá vão 16 anos, nunca cobrei nada do pai, nunca as pus contra o pai, nunca me viram no cenário que descreves. Tive colo dos meus pais que se mantiveram em silêncio, silêncio que valeu por mil palavras. O tempo sarou as feridas e as filhas sempre foram livres de uma análise sincera, de tal forma que uma diz: tenho mais saudades do avô do que do meu pai!

Como em tudo na vida...depois de um inverno rigoroso seguir-se-à inevitavelmente a primavera.

Um beijo

claras manhãs disse...

Olá Anónimo

tenho um blog onde faz mais sentido pôr este tipo de comentários.
Se o tivesse posto lá teria honras de o passar a post para lhe poder responder, como gostaria. Aqui não faço nem uma coisa nem outra.
Deixo-lhe o link:

http://claras-o-contestatario.blogspot.com

cumprimentos

claras manhãs disse...

Olá Fatyly


O grave é os filhos tudo ouvirem, mesmo que não sejam usados como moeda de troca.
Mas também te digo, que os filhos cujos pais não se separam quando o deveriam fazer, também ouvem tudo o que se passa.
Enfim!
As crianças, em qualquer dos casos assimilam tudo e vivem em silêncios.

Mateso disse...

Entre o ir e o ficar existem sempre as linas que se prendem e emaranham... linhas tecidas em outros dias quiçá sem ir.
Bj.

claras manhãs disse...

Olá Mateso


Entre os pais existem sempre os filhos, em todos os casos, haja ou não divórcio.
penso que o menos mau, quando já nada há a fazer, é o divórcio, mesmo para os filhos.

Beijinho