Autor Desconhecido
Quando se cruzaram, mergulharam os olhos um num outro mirando-se bem, deram-se os bons dias, mas não tiveram coragem para romper com as barreiras que tinham há tanto tempo erguido, continuando cada um o seu caminho, bengala na mão, os olhos no chão
cada um deles pensando que já eram tão velhos para poderem voltar atrás
Os passos deles abrandaram pouco a pouco conforme se iam aproximando da respectiva esquina, parando os dois, costas voltadas, cada um pensando que não valia a pena olhar para trás por outro já ali não estar, sem capacidade de se arriscarem a uma nova decepção ou a uma nova troca de olhares, sempre carregados de um misto de amor e de amargura, que lhes poderia ter resgatado a vida.
Qualquer deles tinha sido o mundo inteiro, tinha sido o alfa e o ómega da vida do outro, tinham rompido barreiras e convenções para se poderem estreitar nos braços, tinham-se escondido de todos, cada um deles prometido a um outro par que não queriam aceitar, sem nunca terem tido a coragem de afrontarem os seus e as pessoas de toda a vila, por naqueles tempos não ser permitido fazerem-se “maus” casamentos e quando tal acontecia, os infractores serem ostracizados.
Infelizmente tudo foi descoberto, por os seus olhares quando se cruzavam, em qualquer lugar, dizerem tudo o que sentiam.
As velhas começaram de cochichar, passando rapidamente palavra pela vila inteira, encontrando logo quem os quisesse espiar para descobrirem o seu segredo
Ele, por ser o que faria o casamento desnivelado, fora fraco e não conseguira defender o seu amor, apesar das juras eternas.
Ela, desonrada, apesar de também ter feito as juras, quando o vira aceitar a mulher que lhe tinha sido destinada, aceitara com mansidão fazer o inesperado casamento que o pai lhe impusera, por o par que lhe estava destinado se ter recusado a casar com ela
Ela nunca lhe perdoara a fraqueza, ele jamais lhe tinha perdoado ter casado com tanta pressa, pensando para com ele, que com o tempo teria conseguido fazer compreender aos pais ser ela o seu único amor, a única pessoa com quem poderia ser feliz.
Duas vidas desfeitas, que tentaram fazer felizes outras duas, sem o conseguirem. O amor não esquecido, a amargura de se terem sentido traídos, sempre presente, ausentes para com quem viviam.
Há já vários anos que estavam viúvos, mantendo-se o amor que os unia, mas isso só o sabiam as suas sombras que desesperadas e inconformadas saíam deles sempre que se cruzavam, agigantando-se para mais uma vez repetirem os gestos, ela tão jovem, corpo de bailarina, atirando-se para os braços dele que corria para a poder amparar nos seus braços ainda cheios de vigor, recomeçando a eterna dança do amor.
Casmurros, continuaram o seu caminho sem para trás volverem os olhos
casmurros, cruzar-se-iam amanhã uma outra vez, como vinha acontecendo há já tantos anos, só as suas sombras se reencontrando no amor que sempre se tinha mantido e que a amargura não deixava sentir.
18 comentários:
mas aqui casou pereita e lindamenteo texto e a imagem. fiquei e boca aberta. lindo!
Um belo conjunto, bem escolhida a imagem para o teu belo texto.
Adorei este momento mais um neste teu belo blogue.
Bjs
Nuno
Quando o capricho, o orgulho são sinónimos de ausência de coragem!
Que texto!; que ímagem!...
Olá Júlia
Obrigado, porque sei que a Júlia é uma perfeccionista
Têm sido tempos difíceis para a escrita.
beijinho e obrigado
Olá Nuninho
só tenho pena de não ter conseguido saber quem é o autor da fotografia.
beijinho
Olá Carlos
sorriso
às vezes consigo que saia bem.
beijinho
Sombras que a vida projecta vestidas de sonhos rotos.
Lindo
Bj.
Olá Mateso
às vezes, muitas vezes, a vida não condiz com os sonhos.
É pena
beijinho
LINDO,LINDO,LINDO...
Foto fantástica.
Texto espectacular.
1 beijoca
IA
Olá Minha Querida
Andamos as duas por aqui a estas horas....
Obrigado, Bélinha
Beijinho
Não sei se foi a fotografia que te inspirou ou se de texto escrito a encontraste, o certo é que amei o texto e a foto.
Há posts particularmente inspirados, para mim este é!
Dou-te um prémio: pode ser uma nuvem que esteja a passar neste momento... ou uma grossa gota de chuva que recebas no teu rosto, toma
Ola Marta
Lindo.
Beijinho grande
AnaMaria.
Olá Inês
Foi a fotografia que inspirou o texto Inês
Fiquei fascinada com a fotografia.
Sabes? apetece-me fazer mais textos para ela....
Uma ou mais gotas de chuva que receba no rosto, é o que prefiro, nem imaginas o texto que tenho já preparado às gotas de chuva.
Só tu para adivinhares.
beijinho
Olá Ana Maria
gosto de que tenha gostado, fico mesmo contente.
Obrigado, Ana Maria
beijinho grande
(Falando fora do heterônimo H.S.: não posso, querida, não posso aceitar o prêmio. Primeiro porque a aparição do Dardos romperia com o universo do personagem; segundo porque a modéstia impede-me. Futuramente pretendo criar um blog pessoal, e não de uma pessoa inventada, e nele prometo tentar exibir este troféu, pelo qual sou imensamente grato.)
está bem, já percebi
Agora vê lá se não me avisas quando abrires o teu outro blog´
beijinho, Horácio
Um fascínio e nem sei o que te dizer porque achei uma doçura. A foto está genial e conjuga na perfeição com o teu texto.
Beijos
Obrigado Fatyly
Gostei muito de escrever este texto.
Beijinho
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