Autor que não consegui identificar
Estou para aqui enrodilhada, sem querer ver a luz que passa através da persiana, sem saber quem sou
Dizem que estou com amnésia, mas que talvez possa recuperar se para isso fizer um esforço. Não o quero fazer. Sabe-me bem estar assim, basta-me saber o meu nome.
Não reconhecer os meus pais, não saber se fui feliz ou não. Recuso-me ouvir todos os que me querem contar como era antes desta queda….falam em queda….uma queda de um terceiro andar….
Como caí? Caí? Atirei-me? Empurraram-me? Não dou grande importância à “queda”, já que me não lembro de nada. Estava cá em casa quando caí. Não sei a razão sádica que os leva a tanto insistirem na maldita queda, até ao desespero, mas quando falam dela fazem uma pequena pausa, quase não se nota, enquanto olham para mim.
Olho-os de frente, não para ver qualquer reação, só para verem nos meus olhos que nada recordo.
Mas lá fico um tempo a pensar se caí, se ma atirei, se me empurraram.
Sinto-me num limbo abençoado, pura como se tivesse acabado de nascer. Nada sei, a não ser os gestos automáticos, que de tanto repetidos ficaram gravados, saindo naturalmente. Se pensar onde é a gavetas das camisolas, não me consigo lembrar, mas no outro dia, com frio, subi ao quarto e abri sem pensar a gaveta onde estão as camisolas, ficando admirada por ter tantas.
Falo pouco porque não conheço ninguém, não sei o que pensam, só sei o que ouço e a maior parte das vezes fico sem saber o que lhes vai dentro, então recolho-me e respondo com o silêncio.
Dizem que não era assim….mas agora como sou recém nascida posso ser quem quiser e, o silêncio sabe-me bem como resposta a tanta coisa que dizem, que nada me diz.
Dizem que me tornei mais egoista….
Era egoista? Sou egoísta? Boa ou má? Entrestecida ou risonha?
Gosto de estar nesta posição semi-fetal, reconforta-me. Esta sou eu, a que conheço e não quer conhecer quem era.
Não tenho ninguém a quem fazer perguntas, não é que me apeteça fazê-las, mas reconheço que mesmo se quisesse não teria ninguém para as fazer, não sinto nada por ninguém, não conheço estes que se dizem família ou amigos e quando aparecem fico a olhar, feliz por este isolamento, não tentanto reatar relações
Não sei quem sou, ainda, nem quem fui. Só seei que sou esta que gosta de silêncio, que gosta de ficar na cama de olhos fechados a pensar na bem-aventurança de ter acabado de nascer, adulta.
Recém nascida sem ter de passar por educações
Boa, má? Entrestecida ou risonha?
Dizem que sou médica, que trabalho num hospital…..sei que não quero voltar a fazer o que a outra fazia, só tenho um mês e vou arranjar emprego, sei que quero ter uma vida nova, como nova sou.
Risonha ou entrestecida? boa ou má?
Ando por aí pela rua descobrindo belezas de apaixonar. Têm me dito que conheço a cidade como os dedos das minhas mãos, será por isso que vou dar aos locais mais maravilhosos ficando horas a contemplar o que pela primeira vez vejo, pensando que já deverei ali ter estado, sem “dejá vus”, encantada por os estar a ver como se fosse a primeira vez. Oportunidade rara a de poder, pela segunda vez, ter a reacção primeira e tomar consciência do facto.
Falo com quem está tão embevecido como eu nessas maravilhas e tem sido com essa gente que tenho aprendido a sentir, a ser o que sou, a olhar o longe, a integrar-me. Tenho amigos novos por todos os cantos da cidade e já sabem o meu nome, o prazer que isso me dá.
E as crianças dos parques? Risos cristalinos de pura felicidade, como me comovem.
Dizem que me tornei mais egoista….
Boa ou má? Entrestecida ou risonha?
Não tenho máscaras, essas desapareceram, sou….
Quem sou?
Sei lá
Estou para aqui enrodilhada, sem querer ver a luz que passa através da persiana, sem saber quem sou
Dizem que estou com amnésia, mas que talvez possa recuperar se para isso fizer um esforço. Não o quero fazer. Sabe-me bem estar assim, basta-me saber o meu nome.
Não reconhecer os meus pais, não saber se fui feliz ou não. Recuso-me ouvir todos os que me querem contar como era antes desta queda….falam em queda….uma queda de um terceiro andar….
Como caí? Caí? Atirei-me? Empurraram-me? Não dou grande importância à “queda”, já que me não lembro de nada. Estava cá em casa quando caí. Não sei a razão sádica que os leva a tanto insistirem na maldita queda, até ao desespero, mas quando falam dela fazem uma pequena pausa, quase não se nota, enquanto olham para mim.
Olho-os de frente, não para ver qualquer reação, só para verem nos meus olhos que nada recordo.
Mas lá fico um tempo a pensar se caí, se ma atirei, se me empurraram.
Sinto-me num limbo abençoado, pura como se tivesse acabado de nascer. Nada sei, a não ser os gestos automáticos, que de tanto repetidos ficaram gravados, saindo naturalmente. Se pensar onde é a gavetas das camisolas, não me consigo lembrar, mas no outro dia, com frio, subi ao quarto e abri sem pensar a gaveta onde estão as camisolas, ficando admirada por ter tantas.
Falo pouco porque não conheço ninguém, não sei o que pensam, só sei o que ouço e a maior parte das vezes fico sem saber o que lhes vai dentro, então recolho-me e respondo com o silêncio.
Dizem que não era assim….mas agora como sou recém nascida posso ser quem quiser e, o silêncio sabe-me bem como resposta a tanta coisa que dizem, que nada me diz.
Dizem que me tornei mais egoista….
Era egoista? Sou egoísta? Boa ou má? Entrestecida ou risonha?
Gosto de estar nesta posição semi-fetal, reconforta-me. Esta sou eu, a que conheço e não quer conhecer quem era.
Não tenho ninguém a quem fazer perguntas, não é que me apeteça fazê-las, mas reconheço que mesmo se quisesse não teria ninguém para as fazer, não sinto nada por ninguém, não conheço estes que se dizem família ou amigos e quando aparecem fico a olhar, feliz por este isolamento, não tentanto reatar relações
Não sei quem sou, ainda, nem quem fui. Só seei que sou esta que gosta de silêncio, que gosta de ficar na cama de olhos fechados a pensar na bem-aventurança de ter acabado de nascer, adulta.
Recém nascida sem ter de passar por educações
Boa, má? Entrestecida ou risonha?
Dizem que sou médica, que trabalho num hospital…..sei que não quero voltar a fazer o que a outra fazia, só tenho um mês e vou arranjar emprego, sei que quero ter uma vida nova, como nova sou.
Risonha ou entrestecida? boa ou má?
Ando por aí pela rua descobrindo belezas de apaixonar. Têm me dito que conheço a cidade como os dedos das minhas mãos, será por isso que vou dar aos locais mais maravilhosos ficando horas a contemplar o que pela primeira vez vejo, pensando que já deverei ali ter estado, sem “dejá vus”, encantada por os estar a ver como se fosse a primeira vez. Oportunidade rara a de poder, pela segunda vez, ter a reacção primeira e tomar consciência do facto.
Falo com quem está tão embevecido como eu nessas maravilhas e tem sido com essa gente que tenho aprendido a sentir, a ser o que sou, a olhar o longe, a integrar-me. Tenho amigos novos por todos os cantos da cidade e já sabem o meu nome, o prazer que isso me dá.
E as crianças dos parques? Risos cristalinos de pura felicidade, como me comovem.
Dizem que me tornei mais egoista….
Boa ou má? Entrestecida ou risonha?
Não tenho máscaras, essas desapareceram, sou….
Quem sou?
Sei lá
14 comentários:
É uma boa situação para muitos, perderem a anterioridade, talvez a actualidade e continuarem a sua saga romana.
Mas quem sai dum 3º andar perde sempre alguma coisa.
Nem tudo cai à mesma velocidade e talvez haja partes que nem "poisem", se elevem e nunca se juntem ao corpo.
Mas isto é só uma ideia, que a metafísica é uma doutrina um pouco transcendente, quer para quem caiu, quer para quem a "vê" espiritualmente.
Que bom seria desaparecermos desta vida rotineira e por queda, ou artes mágicas, mudarmos o curso da vida que vivíamos, aparecendo noutra.
Será que nos tornaremos mais reais?
Ela pelo menos não tem máscaras, mas tê-las-ia anteriormente?
Como pode saber?
Não sabe quem é!
Sabe ao menos que é uma mulher?
Quem sabe?
Olá Xistosa
saber que é uma mulher é fácil, por comparação, quanto mais não seja.
Não poderemos sair desta, modificando-a o suficiente para parecer outra?
beijinho
Olá Claras,
gosto do modo como você escreve, só fiquei com uma dúvida. São pensamentos que sentes ou vidas totalmente inventadas? A queda é algo físico mas pode ser uma metáfora para um acontecimento forte na vida de uma pessoa.
Deste modo, se foi inventado, deve ter algo muito forte da escritora.
É por isso que escreves anonimamente?
Como te surgem as ideias para a escrita? Pergunto isto porque penso que a maioria das pessoas simplesmente não consegue meter cá para fora tudo o que pensa e sente de um modo artístico (qqr uma das artes). Como transformas as ideias em escrita já deve ser mais dificil de explicar.
Até à próxima,
Catarina
acho que somos todos esses contrastes e ainda mais alguns. O tudo e o nada, o riso e o choro,a maldade e a inocência, unos nessa multiplicidade.
inhos, muitos
Olá Catarina
Tive outro blog, antes deste e usava nickname, para estar à vontade. No dia que assumi o meu nome, comecei a ter chatices, por isso fechei o blog e reabri este passado mês e meio; então por ironia, pura, resolvi pôr este nome.
A maior parte dos comentadores, sabe quem eu sou.
tenho uma maneira um pouco estranha de inventar as histórias.
às vezes basta ver uma fotografia, foi o caso desta, e a história aparece.
Nunca penso com antecedência o que vou escrever, às vezes até começo por pedir desculpas porque não consegui escrever e de repente aparece a ideia e vou por aí fora.
No outro blog escrevia diariamente, agora, como só faço posts dia sim dia não, pelo menos tenho um dia para apurar mais um pouco a escrita.
Correu mal a entrevista, Catarina?
beijinho
Olá Júlia
é isso mesmo! de contrastes feitos, o que é bom, para não sermos muito monótonos.
sorriso
Beijinho
Este teu "Sei lá"...soou-me a algo mais porque não teremos nós todos os dias essa luta interior, essa vontade de mudar, de contrariar a onda rotineira da vida?
Contam-se pelos dedos os dias que me perdi dentro de mim própria mas sempre encontrei a porta mas jamais aquela onde se encontram "bocarras" que nos ensurdecem por quererem que sejamos o que pretendem.
"Quem sou?"
Hoje sei...amanhã "sei lá eu":)
Beijos
Bem... qdo aqui venho fico sempre deslumbrado e sem palavras que possa trnsmitir o q sinto qdo te leio... sempre maravilhoso ler o que escreves... adorei mais este momento.
Bjs e uma boa noite,
Nuno
Olá Claras, obrigada pelo esclarecimento. O email, mesmo assim, é o maria.anonima.da.silva, ou é só brincadeira?
Eu ainda não fui lá. Acabo o curso amanhã e o senhor só me disse ainda para passar lá com o portfólio. Não tenho tido mesmo tempo para ir lá devido ao excesso de trabalho. Vou lá sexta depois do almoço já que amanhã ainda vou ter que actualizar o meu portfólio (imprimir, comprar capas, etc). Depois digo como correu e peço desculpa pela ausencia.
Boa noite,
Catarina
Olá Fatyly
também é isso
Mudar é a palavra de ordem, cá para mim.
E só pode ser para melhor
beijinho
Olá Nuninho
tu, meu querido, deixas-me sempre sem palavras
obrigado
beijinho
o email, é mesmo esse Catarina
mas depois digo-te, baixinho quem sou.
Ninguém conhecido, evidentemente.
Beijinho
Há certamente "quedas" na vida em que seria bom poder passar uma borracha e apagar tudo da nossa memória, tal como descreves aqui.
Mas perder tudo, até o que de bom houve até ao momento dessa queda também não me parece o ideal. A vida, no fim de contas, lá sabe por onde nos deve levar.
Parabéns por este conto tão bem escrito e descrito.
Bjocas!
Olá Helena
Não é uma defesa da amnésia e ela sempre poderá recuperar.
sorriso
beijinho
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