Bogdan Zwir
O prédio ia ser deitado abaixo e ela ia fazer pela última vez aquela viagem de elevador que a levaria até ao 5º andar, onde se ia despedir das paredes que a tinham visto crescer.
Chamou o elevador, e enquanto chegava viu-se com dez anos a subi-lo pela primeira vez. Prédio de grandes famílias, menos o 4º, onde tinha acabado de nascer o primeiro filho do casal, o Tiago bébé lindo, cuja beleza sempre o acompanhou.
Como era ainda lento, sem nunca mais o terem modernizado. Os vizinhos eram amigos dos pais, a quem tratava por tios.
Finalmente entra, lembrando-se como era desengraçada em plena adolescência.
Tinha-se transformado por volta dos dezoito anos, corpo bem feito, as minissaias mostrando as pernas perfeitas, foi quando namorou o João, filho mais velho dos do primeiro andar.
O Tiago com oito lindos anos, já para ela olhava, e sempre que o via, ela ternurenta dizia
- Olá Tiago, és o vizinho mais lindo deste prédio
Os do segundo andar, sempre snobs, mal davam os bons dias, os filhos, porque os pais eram sempre simpáticos.
Desde os dezassete anos que quando junta fazia a viagem com o "Tio" do terceiro, ele lhe beliscava o rabo, e lhe dizia – Maria Antónia estás-te a transformar, qualquer dia pões a cabeça doida a qualquer homem – ela ria, para disfarçar o mal estar, que o amigo do pai, homem bem bonito, lhe provocava. Ao dezanove, agarrou-a pela cintura e roubou-lhe um beijo, enquanto ela lhe tentava fugir naquele apertado espaço, rindo-se ele da sua atrapalhação. Nunca mais com ele subiu
- Olá Tiago, és o vizinho mais lindo deste prédio...ele com dez anos corou e pôs os olhos no chão. Ela admirada, com uma mão levantou-lhe acabeça, olhou-o nos olhos e percebeu a paixão, então com infinita ternura deu-lhe um beijo na face, que o corou mais ainda.
Ainda vai a passar o terceiro andar e já só de se lembrar fica mal disposta, com a investida do pai do Tiago, que num acesso de loucura, tinha ela vinte e dois anos, mal fecharam as portas no rés-do-chão, a encosta à parede desapertando-lhe a blusa, enquanto ela se contorce e ele arquejante lhe diz ao ouvido, que assim ainda mais a deseja, mas que tem de lhe dar uma lição para não andar a provocá-lo com aquelas saias, enquanto a beija no peito já despido e as suas mãos percorrem o seu corpo. Já o elevador está parado no quarto andar e ele só larga a sua presa, quando ouve a voz da mulher à porta a perguntar-lhe o que se passa. Fica caída no chão, lágrimas a correrem-lhe pela cara, enquanto o ouve, respondendo à mulher, que estava a dar uma lição de moral à Maria Antónia. O pavor que a partir daquela altura tinha de no elevador entrar, fê-la muitas vezes subir a escada até ao quinto andar.
- Olá Tiago, continuas o mais lindo vizinho deste prédio...olá Maria Antónia....ele já com dezassete anos, ela casada, o mesmo olhar apaixonado...então ela com ternura, roça-lhe a boca num beijo leve
Já está no quinto andar e não sai logo, porque ainda se lembra da última vez que viu o Tiago já homem, mais bonito do que se lembrava, ela com quarenta cinco, sem se reconhecerem
Maria Antónia? Pergunta e ela com alegria – Tiago! Continuas lindo. No seu olhar já não existe paixão...e ela diz-lhe na brincadeira – Vês o que fazem os anos? E ele numa ternura, roça-lhe a boca num beijo leve, enquanto lhe diz – A Maria Antónia será sempre a mais linda e terna mulher que me marcou.
14 comentários:
recordar é viver...
Bom feriado
:-)
todos os dias que a leia cogito onde vai buscar tanta história. se à imaginação , se à vida. Responda rápido. Se demorar, não vale. :-)
história lina e comovente,amiga!
beijo
Para ser muito rápida, vou responder primeiro á Júlia
à imaginação, mas sabe bem que todos dizem que só se escreve sobre o que se conhece, por isso
mitá-mitá
sorriso
beijinho, júlia
Olá José
É bom recordar, mas olha que este texto nada tem de auto- biográfico.
beijinho
Quantas mágoas iguais trazem escondidas as mulheres ( mães da palavra segredo) dentro delas?
A sorte da vida são os lindos e puros "Tiagos" que vemos cescer.
Beijo e obrigada por sempre.
Olá Madalena
Era essa a ideia que queria passar, Madalena.
As Mulheres sofredoras de tudo.
Nada tem a agradecer, eu é qiue agradeço a sua beleza.
beijinho grande
Reflexos de um tempo in.tempo...
Gostei muito deste conto onde a paixão e a ternura permanecem acima de qualquer suspeita.
P
a
r
a
b
é
n
s
___________________ Um Beijo [!]
Olá Paulo
As 'minhas' Mulheres, são sempre mulheres de fibra, são Mulheres.
beijinho
São as mulheres de fibra, que sabem melhor que ninguém, vencer os karmas que lhes pesam...
Parabéns amiga
Gosto de te conhecer
Aquele abraço
Mariz
(só agora o post ficou completo...e penso que gostarás do que vires mais)
Olá Mariz
Caramba, Mariz, tenho gostado tanto do teu blog
Um feliz acaso, se é que isso existe, ter-te conhecido
beijinho grande
A ideia do elevador que a transporta no tempo é muito boa. Lento, como convém para descrever as memórias que vão renascendo ao som, imagino, das roldanas do equipamento.
Excelente conto, gostei!
Bjs
Olá Paula
exactamente, ao som das roldanas.
Obrigado
beijinho
Há coisas que não se esqueçem e que o tempo, esse safado de primeira, sem fazer o seu trabalho... resolve deixá-las intactas para sempre!
Gostei muito!
Beijocas
Olá Fatyly
risos
obrigado
beijinho
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