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11 de maio de 2009

AS FASES DE UMA CRISE III




Leonid Afremov




- Então diz lá Isabel, pediu Matilde, explica lá porque te parece que o Nuno já foi dominante e já não é.
- porque ao Nuno, desde há uns anos atrás, começou-lhe a correr bem a vida profissional.
Entrou num grupo multinacional onde era difícil entrar, aliás ele foi o único que entrou sem curso superior, lembram-se não se lembram, como ele ficou contente? Depois foi reconhecido como bom no seu campo profissional e, tem vindo sempre a aumentar o seu prestígio, tendo sido promovido várias vezes, além de ter facilidade em agregar consensos.
Por outro lado, a Maria demorou mais tempo até lhe ser reconhecida a qualidade profissional, por isso nessa fase é natural que o Nuno tenha sido dominante.
- mas todos achávamos que eles se davam tão bem, acrescentou a Mitó, e nunca me pareceu que o Nuno não lhe ligasse
- claro que não, acrescentou a Rita. Tanto que gostava dela, que está na merda.
- é isso mesmo. A Maria nunca foi uma completa dependente, porque se conhece muito bem, é bonita, simpática, sabe que o é, faz amigos com facilidade e sempre contou com o amor do Nuno, pois sempre foi o centro dele.
No entanto é uma mulher maternal cujos filhos começam a não precisar dela, quer dizer, como a mais velha é uma rapariga com 11 anos, uma pré adolescente, a necessidade da mãe já não é tão flagrante, começando a sentir que precisa de um espelho exterior ao lar
Foi depois promovida e passou a ter de ir várias vezes por ano ao estrangeiro, como directora comercial, o que lhe dá uma noção de peso na sociedade bem diferente. É-lhe reconhecido estatuto, o que lhe agrada.
Quando foi promovida a vida deles levou um abanão e houve um início de uma crise, que conseguiram resolver naquele momento, mas que deve ter deixado sementes no ar.
Entretanto o Nuno torna a ser promovido para um lugar que lhe exige que ande diariamente a passear pelo país. Fica fora de casa vários dias por semana.
Poderia ter sido bom, mas não foi. Se a Maria pensava que não poderia viver sem o Nuno, ficou a saber que conseguia e que até talvez vivesse melhor. Soube-lhe bem o afastamento.
A bomba aparece personalizada num casal ‘amigo’ bastante mais dela do que dele.
É aqui que se dividem.
A Maria não abre mão de se dar com os novos amigos, ele recusa-se a sair com eles. Parece uma coisa de nada, mas são visões diferentes de vida. Ela quer-se divertir mais fora de casa, ele não
A Maria torna-se dominante, visto que é ela que decide e o Nuno começa a ter medo de a perder.

Notem, que tudo isto se passa no domínio do inconsciente. Penso que a Maria, ainda não se identificou nem como dependente, nem como dominante.
- ainda bem que dizes que é inconsciente, porque não a estou a ver a fazer o papel de controladora, disse Rita
- mas como passou a Maria repentinamente de dependente a dominante? Pergunta Matilde
- passou, responde Isabel, quando o Nuno percebe que está a um passo de a perder, mostra-se perdidamente apaixonado, tentando fazer tudo para lhe agradar, se quiserem uma imagem que diz tudo, “rasteja a seus pés”
- caramba, diz Mitó, quer dizer que a Maria, por mais que ele faça, se vai afastar cada vez mais.
Também não gostava que o meu parceiro rastejasse aos meus pés. Mas o Nuno é inteligente, como cai numa asneira dessas?
- porque foi apanhado pelo paradoxo da paixão, não identificando a fase da crise que está a passar.
A Maria, vai começar a achar enjoativa a situação, vai-se afastar progressivamente, quanto mais insistente ele for.
O Nuno vai deixar de ser sexualmente atractivo para a Maria, que inclusivamente o deixará de achar tão inteligente e tão criativo e, o afastamento acabará por se dar.
- tu não me digas que ela vai achar aquele borracho enjoativo! Exclama Mitó. Dá Deus nozes a quem não tem dentes
E todas se riem como para desanuviar o ambiente pesado que a conversa traz.
- Acaba Isabel, pede Rita, depois de findas as gargalhadas.
- Está longe de estar acabado. Vou acabar a parte do dominante, dando-vos uma imagem.
Enquanto se deram bem, o Nuno era para a Maria um príncipe. Agora mesmo que todos o achem um príncipe, para ela esse príncipe passou a sapo.



8 comentários:

. intemporal . disse...

As fases de uma crise

I

II

III

que aqui me são sabor e tacto.

um abraço

Mike disse...

Ah, essas sementes que ficam no ar... E quem é que gosta de engolir sapos? ;D

(Outro belíssimo post e, profecias à parte, não acredito em profetas... risos)

claras manhãs disse...

olá Paulo

só falta mais um capítulo e acaba

beijinho

claras manhãs disse...

Olá Mike

ninguém! evidentemente.
Mas engolimos tantos pela vida fora...
profetas? jamás à espanhola, estou farta do jamé
gargalhada

beijo

xistosa, josé torres disse...

Não tenho andado pela Net e por isso não tenho acompanhado o desenrolar da teia ou da trama.
Mas agora vejo porque existem os Grandes Professores, Karamba, Karambolim, Karambolão e Koutobo, mais uma enorme pândita panegirista de curandeiros, astrólogos, mediuns, videntes e quejandos.
Cheira-se o desfecho ...
Mas quem rasteja, normalmente rasga a roupa e depois ao colocar-se na vertical, a sua "fachada" não será a mais aconselhável ...

Ainda não estou ao serviço.
Mas vou voltar breve.
Até já ...

inespimentel disse...

Bolas Minucha, isso é que é virar uma relação pelo avesso, não houve costurinha que não passasses a pente fino... pois, com femeas assim não se hão-de certos homens sentir ultrapassados...

claras manhãs disse...

Viva Xistosa!

Que bom ver-te por aqui.
Era bom que conseguíssemos identificar o nosso papel na vida.
Raro sabermos qual é

Espero-te

beijinho

claras manhãs disse...

Olá Inês


o exemplo é com uma fêmea, mas poderia ser com um macho
risos

beijinho