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2 de abril de 2009

Solidão




foto de LUISA VALE




Ia arejar, pensara ele e levantara-se cedo a meio da insónia que não valia a pena prolongar.
Dera por ele, quando se sentara na areia meia molhada, nem repara, para tirar os sapatos e metodicamente dar um nó nos atacadores de maneira a podê-los pôr no ombro, como sempre fazia, algumas já para embirrar pois sabia que ela não gostava. Sorriu
Embrenhado em pensamentos, problemas ou lá o que fosse, nem reparava que pontapeava a água. Sorte de não haver nem um seixo à vista no areal molhado que o mar acabava de ceder, por umas poucas de horas.
Era-lhe difícil não tomar decisões, não conseguia deixar fluir como ela lhe dizia tantas vezes. Tinha de decidir, às vezes apressadamente mas a indecisão era-lhe difícil de aguentar.
Ali estava quase sentindo-se mártir, sozinho, enquanto a neblina matinal começava a escoar para o horizonte quando deu pela companhia de uma gaivota ali isolada. Afinal tinha estado sempre acompanhado enquanto por ali andara e nem tinha reparado. Não tinha estado sozinho nem por um instante, nem a tinha visto….
Alguma vez se está só?




HÁ POST NO OUTRO CLARAS (e afinal não torno a dizer, não tem sentido)

31 comentários:

Mike disse...

Sim. Há. :)

Mike disse...

Queria dizer, sim, há vezes em que se está só. (Depois de ler o comentário anterior achei-o quiçá indecifrável). :)

xistosa, josé torres disse...

Por vezes absortos em pensamentos ou tentando isolá-los, nem damos que existimos.
Mas só não estamos ... estava
Tinha a água para pontapear, a neblina que o envolvia e a gaivota ... para além do baloiçar dos sapatos ...
Talvez por isso caminhasse por outras paisagens.

xistosa, josé torres disse...

Esqueci-me de dizer que vou tentar aproveitar o sol das manhãs para fazer visitas, porque à noite, tenho que andar de vela na mão e sempre a tropeçar ...
É que não é só a velocidade miserável.
Também tem essa peculiaridade fantástica de estar sempre a cair.
Vou ter que mudar a luz da vela por um foco ...

António Conceição disse...

Alguma vez se está só?

Sim, no momento da morte. É o acto mais solitário do mundo, suspeito eu.

luisa vale- fotografia disse...

Sabes que quando me apetece estar sozinha procuro o rio,e lá, está sempre alguma gaivota que me acompanha durante o passeio.
Fico horas a vê-las subir e descer,como que a convidarem-me para ir com elas...e muitas vezes consigo voar...

O teu texto é simples e lindo.

um beijinho

Nuno de Sousa disse...

Ás vezes queremos estar só, outras vezes somos abandonados, tem mtas pessoas sós, existe sempre alguém a precisar de uma companhia, principalmente pessoas idosas, essas são as que mais sofrem com a solidão, por isso ela existe.
Gostei imenso do teu texto... lindo e como sempre algo que nos toca e faz pensar.
Bjs em ti minha boa amiga,
Nuno

claras manhãs disse...

Olá Nuno

Percebo perfeitamente o teu ponto de vista e estou de acordo com ele.
Há pessoas em profunda solidão

beijinho

claras manhãs disse...

Olá Luisa


Obrigada por me teres deixado usar uma das tuas fotografias.
Quando queres estar só, arranjas companhia.....

beijinho

claras manhãs disse...

Olá Funes Querido


para mim, a morte é a mudança de um estado para um outro, por isso tenho quase a certeza de que não estarei só, mesmo que por terrífico drama esteja sem afectos

beijinho

claras manhãs disse...

Olá Xistosa

Estás a inverter os horários!
As manhãs são fabulosas, mas sempre preferi as noites.

É tão verdade que nem damos poe exisitir quando absortos em pensamentos.
Gosto do baloiçar dos sapatos

beijinho

claras manhãs disse...

Olá Mike

sorriso
Não era indecifrável, mas ficou mais explicadinho.
Completamente só? ou só a sentir-se só? Não é bem a mesma coisa
sorriso

beijinho

António Conceição disse...

"para mim, a morte é a mudança de um estado para um outro, por isso tenho quase a certeza de que não estarei só"

Não percebi, querida Claras. Não estando só, quem está consigo está do lado de cá da vida ou do lá de lá?
É que do lado de cá, a solidão resulta precisamente de a morte ser um acto que temos que viver nós próprios, que não pode ser partilhado com ninguém e do qual ninguém tem experiência para poder connosco partilhá-lo ou compreendê-lo. É isso que faz dele um acto solitário.
Agora se do lado de lá há alguém que a espera e acompanha, aí já não me pronuncio.

Mike disse...

Ambas. :)
A música é fantástica. Às vezes deixo o Claras Manhãs aberto só para a ouvir. (risos)

Fatyly disse...

É sempre possível até mesmo quando acompanhados, agora se considerarmos companhia a zona envolvente, neste caso a praia...nunca se está só!

Beijos

saphou disse...

Estou sempre só, mesmo quando acompanhada.
A doença e a morte são do mais solitário que há. Mesmo que alguém no além ou no aquém, olhe por nós.

claras manhãs disse...

Estamos a falar de convicções, de fé, de crenças, Funes Querido, certo?

Falei de de mudança ou transformação propositadamente e não de cá e lá.
A mudança é de um estado para outro estado, por isso não há cá nem lá, há sempre.
Acredito que nunca se está só, acredito que nessa mudança, também nunca se estará só.

beijinho

claras manhãs disse...

Funes!

Não é bem 'Deus está em todo o lado', apesar de ser quase a mesma coisa.
Sinto-o mais como o Universoo está em todo o lado

beijo, com sorriso divertido

claras manhãs disse...

Olá Mike

Sei de mais pessoas que dizem o mesmo.
Eu gosto imenso dela e também o faço.
Como é que o Mike fazendo surf, pode falar de estar só? Quando se faz surf, na altura em que se está no mar, tem de haver uma tal interacção, que sente que fazemos parte de um todo.
Esse sentimento, essa sensação deveria permanecer, no meu ponto de vista
sorriso

beijinho

claras manhãs disse...

Não me apetece nada ser moralista Saphou
o grande perigo quando se acredita em algo, diferente do que é habitual, é as palavras parecerem vazias e sem sentido a quem não acredita
Diria que aquilo em que acredito está dentro de mim e que não o tenho de procurar fora de mim. por isso estar acompanhada.
Que a doença é terrível e que uma simples dor de cabeça me faz sentir que sou feitos de merda, é verdade, mas não me sinto sozinha e não sei explicar melhor, pelo menos por escrito

beijinho

inespimentel disse...

Estamos só na morte, se tivermos consciência de que chegou o seu momento!
...e talvez quando reconhecemos um círculo invisível em nosso redor, intransponível... aquela distância real, que nos deixa sós e acompanhados... os outros a uma distância confortável... quase inevitável... até tirava daqui o quase...

António Conceição disse...

1- Claras, compreendo, isto é, na minha falta de fé, julgo perceber intelectualmente o que quer dizer.

2- "Estamos só na morte, se tivermos consciência de que chegou o seu momento!"
Concordo, Inês Pimentel.
A minha ideia de inferno é esta: morremos, sentimos a nossa alma a separar-se do corpo, sentimos que nos elevamos no ar e vemos o nosso corpo morto; depois entramos num túnel e somos levados durante largos minutos (digo minutos impropriamente, porque nessa altura já não há tempo) ao longo desse túnel; de repente, vemos uma luz ao fundo e pressentimos uma energia pacificadora e feliz que nos aguarda; aproximamo-nos dessa luz e um sentimento infinito de paz invade-nos; quando estamos a alcançar a tal luz, ela apaga-se e fica tudo escuro. E não acontece mais nada. Para toda a eternidade.

claras manhãs disse...

Olá Fatyly

Há a envolvente e há o eu.
O eu deveria ser tão forte que não nos fizesse sentir isolados, penso

beijinho

claras manhãs disse...

O seu inferno, Funes,
está muito perto, em termos simbólicos, do inferno do catolicismo:
Ver a Luz e ficar apartado dela, por castigo, pelas faltas cometidas
sorriso divertido
Não sei porquê, mas essa ideia de túnel com a luz ao fundo não me agrada muito
se calhar até sei porque é que não gosto, acho que já passei túneis suficientes e não me apetece nada ter de enfrentar mais um

beijinho

António Conceição disse...

Eu sou um anti-sartriano. Para mim, o inferno não são os outros. Pelo contrário, é a falta dos outros, a solidão absoluta.

claras manhãs disse...

Olá Inês

Não sei como será a morte. como é evidente, pois nunca estive nem próximo dela, em termos pessoais.
Assistir à morte de outros não me faz tirar ilações sobre a minha, o que já foi dito pelo Funes.
O que me parece é que depende do que para nós é a morte, daí sentirmo-nos sós ou não, nesse momento.

beijinho

claras manhãs disse...

para mim o inferno nunca são os outros
nem pensar!
Engraçado, porque tenho pensado pouco no inferno
mas sempre que me senti no inferno foi em alturas em que não sabia o que havia de fazer....
Portanto também não é a ausência dos outros, nem a dúvida, mas sim a incapacidade de tomar uma decisão.
estou aqui a olhar para a minha resposta e a acenar com a cabeça.
Essa incapacidade, as vezes em que a tive, foi um verdadeiro inferno o que vivi

beijinho

. intemporal . disse...

cada vez se está mais só

[no meio da multidão]

e a companhia meramente fisica poderá ser somente ou apenas a o desabandono simplesmente corpóreo.

urge esta sintonia com o EU.

e deixo um beijo

e o desejo de um bom fim de semana.

prafrente disse...

Ás vezes estamos sós...mesmo quando uma gaivota nos faz companhia...ou mesmo rodeados de gente quando os "não-lugares" fazem parte da nossa vida

Bjinho

claras manhãs disse...

Olá Paulo

Penso que nunca houve tanta procura como hoje em dia.
Quem procura acha.
Qualquer descoberta é boa, desde que honesta.
O Eu e o eu e não gosto, Paulo, de fazer essa destrinça. Acho que é a mesma coisa, ou seja, somos feitos de todos os eus

beijinho

claras manhãs disse...

Entendo o que dizes José


Se calhar porque ainda não foi encontrado o lugar que nos pertence por direito
mas esse lugar existe para cada um de nós
diria que em nós próprios

beijinho