Claude Théberge
Quis fazer uma casa de paredes abertas, engenheiros e arquitetos chamaram-lhe louca.
Mas ela teimosa não desistiu do sonho. Queria fazer a sua casa para aquele homem. Chegado o outono, resolveu que era tempo de a começar. Já tinha feito a movimentação de terras necessárias, já tinha acarinhado o terreno onde a casa seria implantada.
Metade dela ficava no campo, a outra metade na praia mesmo virada para o mar, protegida pelo vento por uma rocha enorme onde as ondas sempre iam bater fazendo remoinhos de encantar.
Um dia, porque o cansaço era medonho, por ser mais difícil do que o sonhado, parou. braços caídos ao longo do corpo, mãos calejadas, pés inchados, escorrendo suor, voltou costas a tudo
A meio do percurso de ida voltou para recomeçar, sem ter conseguido esquecer aquela casa que começava a ter forma, que queria dar de presente àquele homem especial, por quem estava perdida. Uma das paredes já formada por arbustos bem cerrados onde embutiu uma janela com vista para o mar, fazia esquina com o fogão de lenha e a sua respectiva chaminé. Entre os dois pôs uma torneira para controlar a nascente que jorrava água amor, ou pérolas
Acendeu o fogão com a lenha que tinha ali ao lado, começando a fazer bolachas, o cheiro espalhando-se pelos rolos de fumo que se transformavam nas mais leves e cheirosas nuvens. Esticou o braço e trouxe uma delas para mais perto, onde pendurou o quadro da sua vida.
A cozinha dava para a seara de trigo e ao lado da porta que não existia, fez o quarto que haveria de ser deles, mágico. Foi buscar os mais alvos lençois de linho, guardados naquele armário onde tudo o que precisava aparecia, bastava para isso pensar no que gostava de ter ali mesmo à mão de semear, com um deles envolveu o colchão, tão fofo, feito de amores-perfeitos e jasmim e com o outro, bordado com lírios brancos, fez a cama.
Antes de o ir buscar para ver a obra já acabada, deitou-se, cansada, com sono, na seara que a aconchegou nas suas espigas e bocejando, embalada com o som das ondas que batiam na areia, adormeceu.
Acordou revitalizada, o lume no fogão ainda ardia, tomou banho na nascente que nesse dia jorrava pérolas e amor. Ele sentiu o cheiro que emanava daquele canto, das bolachas, dela e descobriu o caminho que o traria até ali. O beijo que lhe deu quando chegou, antes mesmo de em sua volta olhar, embalou-a em ondas de amor em espasmos de desejo, mas ficou parado a admirar, quando no quarto entrou, a parede feita de lírios que se derramava pelo lençol da cama.
Despiu-se de tudo, para que a visse pela primeira vez e ele por seu lado fez outro tanto, deixando cair as máscaras que com cuidado, como todos, tinham composto. Translúcidos da luz que neles transportavam, quase não se reconheceram na beleza do ser, que por tanto tempo tinham guardado.
Foi nessa cama que caíram enlaçados os corpos ondeando, começando a dança mágica, flores pelo ar pairando, sons entregues ao vento, beijos levados à seara, mergulhando em mares que se espraiavam, ora calmos ora revoltos, em infinito azul